Navegar no mar distópico das mídias virtuais é como estar diante de uma tormenta em formação ou uma onda de 8 metros de altura. Um misto de admiração e espanto!
Como, por exemplo:
•Noticiários nacionais especulam sobre as polêmicas e o ostensivo sucesso da Feira SP-Arte.
•Críticos locais fofocam sobre uma mostra que rebola no bambolê da excelência do design de interiores, mas escorrega no seu vitrinismo em tons terracota, numa intervenção amadora, pseudo-artística.
•Pelos museus e centros culturais goianos, ingênuas e devotas fotografias adornadas por materiais ordinários contrastam com figuras deformadas e animalescas em diálogo com uma arte naif que beira o grotesco e o profano.
•Ironicamente, esculturas em forma de canídeo, feitas a partir de materiais sintéticos, teriam a intenção de homenagear a fauna e flora, leiloadas por dezenas de milhas de reais.
Sim, meus caros, a formação do tormento ou da tormenta é real. O reflexo desta crise estética tem um histórico familiar muito mais vinculado à religiosidade do que possamos imaginar. Desde a vinda de nossos "descobridores" até a realização da primeira missa no Brasil, carregamos o fardo do crucifixo em suportar as dores e as delícias do país tropical.
Historicamente a Igreja Católica, durante longa data, contribuiu na educação como formadora catedrática e acadêmica. No entanto, com o advento dos meios de comunicação em massa as Igrejas Evangélicas ganharam uma ascensão contínua e significativa. Mas não só nas mídias sociais ou nos seus Ministérios de Deus, como também seu envolvimento com assuntos políticos, dentro de Ministérios Públicos, o que me parece ser um tanto ultrajante.
Essa confusão alegórica entre religião e política cria uma controversa tensão social. Potencializa a polarização entre extremos e reflete na sociedade a produção de discursos artísticos rasos, duvidosos e quase lamentáveis.
A Arte deveria ser um Norte neste mar de ondas bravias cheias de perigosas redes de pescas proibidas.
A Arte deveria ser como esse coelho da Alice no País das Maravilhas: "uma espécie de mentor místico que a guia em aventuras além de seu conhecimento".
Afinal, a Semana Santa está chegando e traz consigo a ideia de reflexão, de renovação, de regeneração.
Haja visto que a simbologia do coelho da Páscoa coincide com a chegada da Primavera no Hemisfério Norte, que representa a abundância, a prosperidade, a fertilidade e o renascimento.
Já na literatura de Lewis Carroll o coelho representa a noção de tempo, de coordenadas para explorar territórios desconhecidos, de urgência para uma imersão ao autoconhecimento.
Que possamos, enfim, suavizar as controvérsias do nosso país tropical para seguirmos os ventos da 'primavera', os ventos do Norte que a Arte deveria nos dar. Tal como a onírica busca de Alice, apressando-se em alcançar seu guia místico (seu inconsciente, intuição e sonho) rumo à autodescoberta.
Follow the rabbit!