Para adicionar atalho: no Google Chrome, toque no ícone de três pontos, no canto superior direito da tela, e clique em "Adicionar à tela inicial". Finalize clicando em adicionar.
Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351
Sobre o Colunista
José Abrão
José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br
Cena de 'Adolescência' (Foto: divulgação)A minissérie Adolescência, com apenas quatro capítulos, já é, tranquilamente, uma das melhores estreias do ano até agora. Íntima, hermética e perturbadora, a trama gira ao redor de um crime bárbaro: um adolescente de 13 anos é acusado de matar uma colega de escola da mesma idade. Uma premissa não tão extraordinária assim, que normalmente serviria para catapultar um thriller ou uma série policial dramática longa, com reviravoltas, mistérios e conspirações, mas não por aqui.
Esta breve produção não é uma história policial nem de mistério, mas sim um drama sobre o contexto e as consequências de um crime chocante envolvendo pessoas tão jovens. Os episódios são divididos tematicamente: no 1°, acompanhamos a prisão do jovem Jamie Miller e seu depoimento na cadeia; no 2º, os policiais vão até a escola, tomada pelo luto, mostrando o impacto do crime na comunidade escolar e de que forma a vida estudantil interfere na situação; no 3°, Jamie passa por uma avaliação psicológica de tirar o fôlego e, finalmente, no 4º, temos um olhar mais próximo sobre os pais e a irmã do adolescente. É aí que a série mostra como eles foram afetados e as consequências do caso no seio familiar.
É impressionante como a minissérie consegue ser contida, envolvente e sutil e, ao mesmo tempo, abordar tantos temas pertinentes simultaneamente: redes sociais, pressão social, sexualidade, papéis de gênero, trauma geracional, bullying... Isso só para mencionar alguns. E tudo isso sem fazer juízo de valor sobre nenhum dos envolvidos: há algo de quase jornalístico na intimidade e na honestidade com que a narrativa se apresenta, como se simplesmente revelasse os fatos de forma nua e crua.
A minissérie também é um primor técnico: filmada inteiramente em plano-sequência e, muitas vezes, com câmera na mão, constantemente em movimento, a estratégia traz mais crueza à série, além de uma sensação terrivelmente sufocante ao se aproximar e fechar planos dentro do espaço pessoal dos personagens. Isso se soma à trilha sonora pouco invasiva e às atuações totalmente viscerais do elenco principal, muitas vezes aparecendo em frangalhos na tela.
É difícil não ficar perturbado com a minissérie, não apenas pelo seu tema, mas pela maneira franca com que tudo é tratado. Sem dúvida, ela afetará de formas diferentes cada segmento da audiência: certamente, adolescentes e pais de adolescentes verão a mesma trama com olhares radicalmente distintos, mas igualmente arrepiantes. É simplesmente imperdível.