Carolina Pessoni
Goiânia – No aniversário de 88 anos de Goiânia, comemorado neste domingo (24/10), a coluna Joias do Centro conta um pouco da história de um dos mais importantes edifícios da cidade: o Palácio das Esmeraldas. A casa do chefe do Executivo estadual e sede do Governo do Estado está localizada no coração da capital, a Praça Cívica, que é considerada o marco zero da construção de Goiânia.
O prédio foi projetado pelo urbanista Atílio Corrêa Lima, que também elaborou o traçado da nova capital, e foi construído entre os anos de 1933 e 1937, sendo 23 de março a data oficial de sua inauguração. O Palácio se tornou um dos grandes monumentos do estilo art decó em Goiânia, por sua suntuosidade em relação ao estilo.
(Foto: Arquivo Nacional)
O pesquisador do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade Federal de Goiás (UFG) e engenheiro civil, Wolney Unes, destaca a importância da localização do Palácio. "Ele é o ponto focal do Centro de Goiânia, a exata confluência das três avenidas: Araguaia, Goiás e Tocantins." Segundo os relatos históricos, nenhum governador deixou de ocupar as dependências do prédio.
A primeira menção ao Palácio em um documento é feita no relatório dos irmãos Coimbra Bueno, responsáveis por grande parte das obras da construção da nova capital. "Havia uma reclamação sobre o projeto de um brasão na fachada, que seria muito difícil de ser executado, então resolveram simplificar e escrever somente 'Palácio'", diz Wolney.
Com fachada de linhas retas e sóbrias, na visão de Atílio Corrêa Lima, a sede do executivo goiano deveria representar a racionalidade e economia e que atendesse às exigências da vida moderna. Ao todo o Palácio tem 9.789,96 metros quadrados de área construída, com destaques para as passarelas e varandas e o acesso centralizado por meio de um hall.
O Palácio das Esmeraldas forma um conjunto ligado por galeria coberta com edifícios nas duas laterais. À direita (leste), com a Prefeitura original, que depois foi a Secretaria Geral e, posteriormente o Fórum, que atualmente abriga o Centro Cultural Marietta Telles Machado. Já à esquerda (oste) está o Fórum original, que posteriormente foi o Tribunal de Justiça do Estado. Todas essas arquiteturas são de autoria de Attilio Corrêa Lima e tombadas como Patrimônio Histórico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A decoração do Palácio remete a temas da época da construção da Capital, que evidenciada principalmente nos vitrais, assinados pelo artista russo Conrado Sorgenitch. "Temos imagens de nativos, bichos, plantas e atividades da mineração. São motivos regionais que ornamentam além dos vitrais, também os elevadores do prédio", explica Wolney.
O prédio conta três pavimentos bem distribuídos em suas funções: o térreo, que ocupa a parte administrativa do Palácio, o gabinete do governador, as recepções, e os salões Verde e Gercina Borges Teixeira. Neste pavimento também está localizada a sala de cinema, atualmente desativada. Os outros dois andares são a residência oficial da família do governador, com acesso restrito.
O salão Gercina Borges Teixeira, ou Dona Gercina como é conhecido, leva o nome da primeira dama a ocupar a residência oficial, a esposa do então governador e idealizador na nova capital, Pedro Ludovico Teixeira. Um grande quadro com a imagem de Dona Gercina decora o local, que conta ainda com um imponente lustre, móveis em madeira, uma galeria de retratos das primeiras-damas de Goiás e um piano.
Salão Dona Gercina Borges (Foto: Léo Iran)
No segundo pavimento estão a sala de refeições, sala de chá e dependências sociais, e, no terceiro, os quartos da família. Todas as dependências são organizadas por uma experiente equipe de colaboradores como profissionais de limpeza, segurança, almoxarifado e cozinha.
O jardim do Palácio também é um dos destaques do local e já recebeu inúmeros eventos sociais e filantrópicos. Sua composição foi inspirada no estilo do Palácio de Versalhes, na França, com fontes de água e postes de iluminação também no estilo art déco. Há ainda um pomar com 17 jabuticabeiras plantadas por Dona Gercina Borges, na década de 40.
Em 2005 o Palácio passou por obras que restauraram os vitrais, painéis, pisos, assoalhos de madeira, revestimentos, sanitários e a fachada, com o intuito de recompor a arquitetura original da capital e as características históricas de sua fundação. Entre 2013 e 2016, uma reforma restaurou suas instalações, seguindo determinações de preservação das suas características originais ditadas pelo Iphan.
História
Além de ser um dos marcos da construção de Goiânia, Palácio das Esmeraldas já foi palco da história do Estado por diversas vezes, seja pelos discursos dos governadores feitos na sacada do andar de cima, ou pelas visitas importantes, velórios, bailes, saraus e muitas decisões políticas tomadas em suas dependências.
Um dos fatos curiosos aconteceu no governo de Mauro Borges, que participou ativamente da Campanha da Legalidade, que tinha por objetivo defender a posse do vice-presidente João Goulart após a renúncia do então presidente Jânio Quadros, em 1961. Esse apoio transformou o Palácio das Esmeraldas em um quartel dos legalistas e o posicionamento criou atritos com as Forças Armadas. "Como o governador era contra a ditadura, aviões do exército faziam voos rasantes sobre o Palácio para intimidar o governador e tentar fazê-lo renunciar, o que de fato aconteceu posteriormente", conta Wolney.
Outro evento importante foi o lançamento da campanha Diretas Já, em 1988, com comício realizado na porta do Palácio, e que contou com a presença de nomes importantes da política nacional, como Tancredo Neves, Ulisses Guimarães e Henrique Santillo. Além dos eventos, diversas visitas de presidentes e chefes de Estado, e até mesmo da seleção brasileira de futebol, em 1984, após a conquista da medalha de prata nas Olimpíadas de Los Angeles.
Esmeraldas
O nome do Palácio foi escolhido em referência a uma pedra preciosa, a esmeralda, mas, segundo explica Wolney, não há um registro da razão ou de quem tenha feito essa escolha. Todo o revestimento do prédio foi feito em quartzito, também conhecido como pó de pedra, em tom verde, para dar a impressão de esmeralda.
(Foto: Arquivo)
"Na década de 1960 foi feita uma reforma, mas não havia mais esse tipo de revestimento. A saída encontrada foi usar cacos de vidro de garrafas de refrigerante para colocar nas paredes e dar a mesma impressão de brilho de pedra preciosa. Entretanto, isso era muito perigoso, porque as pessoas se machucavam. Então, na reforma realizada nos anos 2000 o revestimento original foi recomposto", explica o pesquisador.
A coluna Joias do Centro tem o apoio da Sim Engenharia
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