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Sobre o Colunista
Othaniel Alcântara
Othaniel Alcântara é professor de Música da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador integrado ao CESEM (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical), vinculado à Universidade Nova de Lisboa. othaniel.alcantara@gmail.com / othaniel.alcantara@gmail.com
No mês de março (2021), o pianista Everton Marin lançou o Álbum Unleashed* - Works for piano solo (CD + livro de partituras). Trata-se de um trabalho autoral, prefaciado por ninguém mais ninguém menos do que Ricardo Tacuchian. Nas palavras deste prestigiado maestro e compositor brasileiro,
"Suas músicas [constantes do Álbum Unleashed] oscilam em um terreno entre o pop e o clássico,
alicerçadas em gêneros históricos como a Fuga, o Improviso, o Prelúdio, o Jazz e a Toccata, entre outros".
Capa do Álbum Unleashed
* O Álbum Unleashed estará disponível em diversas plataformas digitais (Spotify, Apple Music, Deezer etc.) a partir do dia 28 de abril de 2021.
Conheci aquele talentoso artista no ano de 2002, ano de seu ingresso no Curso de Bacharelado em Música (Piano), oferecido pela Escola de Música de Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás (EMAC/UFG). Logo ficamos amigos e, por algum tempo, e com certa frequência, jogamos futebol juntos.
Everton Marin é um dos músicos mais versáteis que conheço. Na qualidade de pianista, transita não apenas pelo chamado universo “erudito”. Tem, por exemplo, destacada atuação também no terreno do Rock.
Aliás, este artista tem ligação com duas bandas goianas: Movie Sessions (desde 2015) e Heaven´s Guardian (desde 2000). Com esta última gravou, em 2018, um DVD com a Orquestra Jovem de Goiás. Tal trabalho foi premiado como o segundo melhor DVD daquele ano, pela Revista Roadie Crew.
Em entrevista, realizada por e-mail, Everton Marin fala sobre Unleashed - Works for piano solo, entre outros assuntos.
Pianista Everton Marin
(arquivo pessoal de Everton Marin)
Othaniel Alcântara: Doze peças integram o CD Unleashed. Como foi o processo de composição dessas obras? Todas foram pensadas para esse Álbum?
Everton Marin: Não, elas não foram pensadas para esse Álbum. Comecei a compor minhas peças para piano solo a partir de 2018, ainda quando estava trabalhando na produção do DVD da Banda Heaven’s Guardian. E, ao longo desses três últimos anos, criei praticamente todas as faixas deste disco para piano solo, influenciado por todo o repertório com o qual já tive contato. Isto é, meu trabalho foi inspirado no legado de grandes compositores, em momentos distintos e por objetivos diferenciados. De fato, acredito fielmente que, por mais inovador que seja um autor, ele sempre irá se basear nas suas vivências.
Durante esse período, fui escrevendo as músicas sem ter a intenção de gravar um CD. A ideia do disco veio mais tarde, com a aprovação de um projeto cultural pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Em seguida, terminei de editar as partituras e concretizar os estudos, focando exclusivamente na gravação desse Álbum.
Othaniel: Por qual motivo você escolheu o título Unleashed para o seu Álbum?
Everton: O nome do álbum foi escolhido devido à variação de estilos que o disco possui. A palavra Unleashed, em português, significa algo livre, sem amarração, o que caracteriza, de forma plena, o intuito desse Álbum. Peças que variam de estilos mais tradicionais como Fuga, Prelúdios, Improvisos até obras com caráter programático como Senzala e Melina´s Dream Land. A grande proposta do disco é a riqueza de estilos, sem preconceitos e com liberdade total.
Senzala (faixa 8 de Álbum Unleashed) Everton Marin
Fonte: YouTube
Othaniel: Aos 18 anos de idade, você iniciou os estudos de piano em Goiânia com a nossa amiga, Tia Lilian (Lilian Meire S. Carneiro de Mendonça), e com a prestigiada musicista goiana Belkiss Spenzieri. Fez sua Graduação na Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás (EMAC/UFG) entre os anos de 2002 e 2006, sob a orientação da professora Maria Helena Jayme Borges. Depois, no período de 2007 a 2009, cursou o Mestrado em “Piano Performance” na University of Wyoming (EUA).
Pergunta: Em qual momento você começou a compor?
Everton: Compor sempre foi algo de que gostei muito, principalmente no âmbito da música popular e do rock. Durante o Mestrado em “Piano Performance”, nos Estados Unidos, eu tive algumas aulas de composição e isso acabou me levando para o campo da composição erudita. Em 2018, com o projeto do DVD da minha Banda Heaven’s Guardian e a Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás, eu tive que mergulhar a fundo nos estudos de composição e orquestração, já que fui o responsável pela transcrição das músicas da banda para a orquestra.
Othaniel: Como pianista, toda a sua formação ocorreu no ambiente “erudito”. Além do contato com as professoras goianas, mencionadas na pergunta anterior, você foi orientado nos Estados Unidos pelas pianistas Theresa Bogard e Rúbia Santos. Além disso, frequentou masterclasses oferecidas por outros prestigiados artistas, tais como: George Kern, Sergey Dorensky, Almeida Prado e Marlos Nobre.
Pergunta: Sempre tive a curiosidade de saber: como a sua atuação em bandas de Rock se encaixa em sua carreira profissional?
Everton: Na verdade, tudo começou no rock; foi por causa da influência de várias bandas do estilo que meu desejo pela música iniciou. Muitas pessoas têm um certo preconceito com este gênero musical, mas a verdade é que os dois estilos, clássico e rock têm muito em comum. A formação erudita que tive me ajudou muito nas composições das minhas bandas e vice-versa. Duas peças do Álbum Unleashed, por exemplo, a Fuga nº1 e o Estudo nº1 foram músicas que fiz originalmente para a Banda Heaven’s Guardian e que ganharam uma versão estilizada e erudita nesse disco. Nós sabemos que o mundo da música erudita é sempre muito exigente, mas aliada à liberdade que o rock me proporciona faz com que eu sinta um perfeito equilíbrio na minha carreira.
Pianista e tecladista Everton Marin
(arquivo pessoal de Everton Marin)
Othaniel: Na segunda resposta, foi mencionado que Melina´s Dream Land (faixa 01) e Senzala (faixa 08) possuem caráter descritivo. Trata-se de um caminho mais próximo de Berlioz ou de Mahler? Ou de nenhum dos dois?
Everton: Eu diria que essas peças têm, sim, influência desses dois grandes compositores, assim como de Beethoven, no caráter descritivo. Porém, acredito que elas têm ainda mais laços com a parte visual, pois elas já foram pensadas em pequenas estórias que poderiam vir a se tornar um videoclipe. Melina’s Dream Land já tem toda a parte visual elaborada para se tornar um curta metragem em forma de animação. Cada parte da peça, que por sinal são bem distintas, representa um sonho diferente de uma pequena garotinha. Senzala também foi pensada para se tornar um clip mostrando as danças negras na época da escravidão. Como intérprete, sempre temos essa responsabilidade de tentar transmitir ao público as ideias do compositor. E interpretar sua própria obra é bem diferente e especial, pois sabemos a fundo o que foi pensado desde o início da concepção da peça.
Othaniel: Você disse, em sua primeira resposta, que seu trabalho foi inspirado no legado de grandes compositores. Existe uma relação direta entre suas peças - ou pelo menos parte delas – e um compositor específico?
Everton: Sim, com certeza existe uma relação e influência em praticamente todas elas. Não tem como deixar de ser influenciado, na música clássica, pelos grandes compositores; eles deixaram um legado enorme de técnicas composicionais que serão usadas durante muito tempo ainda. A Fuga nª1 (faixa 07) foi feita, em grande parte, de acordo com os moldes utilizados por J. S. Bach, que talvez tenha sido o grande nome deste gênero. O Estudo nª1 (faixa 06) certamente foi inspirado nos estudos de Chopin, utilizando os mesmos padrões do compositor polonês. Chorinho Manhoso (faixa 11) foi uma homenagem ao compositor Edino Krieger e seu brilhante Choro Dengoso, uma peça que toquei há muito tempo atrás. A Valsa do Adeus (faixa 12) foi motivada pelas Valsas de Esquina do compositor brasileiro Francisco Mignone. Além desses nomes já citados, outros compositores que certamente me influenciaram em peças neste disco foram: Alexander Scriabin, Heitor Villa Lobos, Camargo Guarnieri, Francis Poulenc e Franz Schubert.
Othaniel: Antes de começarmos esta entrevista, obviamente ouvi o CD Unleashed. E já lhe disse o quanto gostei de suas composições, bem como de sua performance nesse Álbum. Mas receber elogios do maestro e compositor Ricardo Tacuchian deve ser algo emocionante! Como você conheceu este prestigiado artista brasileiro?
Everton: O maestro Ricardo Tacuchian é realmente uma pessoa muito prestativa e simpática. Na verdade, eu não o conheço pessoalmente e foi através das redes sociais que tivemos contato. Os vídeos com as performances das obras do disco Unleashed foram lançados e, prontamente, ele respondeu a um primeiro contato que fiz. Claro que, já sabendo da importância que ele tem na música brasileira, perguntei se ele tinha interesse de ouvir de antemão o disco e escrever algo sobre. Quando ele respondeu dizendo que tinha ouvido e gostado e que fazia questão de escrever uma apresentação do disco, foi para mim algo muito especial, pois entendo que ter um prefácio escrito por um dos maiores compositores do Brasil é importantíssimo para a divulgação desse trabalho. Serei eternamente grato pelas palavras e carinho que ele demonstrou neste álbum.
Othaniel: Na opinião do Compositor Ricardo Tacuchian, registrada no final da Apresentação do CD Unleashed, temos: “Quando acabamos de ouvir, temos a sensação de que voos ainda virão deste artista com talento suficiente para nos oferecer outras emoções a partir de sua música”. Você já tem projetos para novos trabalhos autorais?
Everton: Com o lançamento deste Álbum Unleashed, algumas peças já foram encomendadas e é claro que um novo disco para piano solo deve vir, nos próximos anos. Já tenho algumas obras prontas e cada vez mais vontade de mergulhar a fundo no mundo da composição. Além desse trabalho solo, estou escrevendo os arranjos para um novo disco da Banda Heaven's Guardian e a Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás. Este novo projeto deve ser gravado em Los Angeles e em Goiânia, e contará com a participação de um dos maiores produtores do gênero no mundo, o americano Roy Z, responsável por toda a carreira solo do vocalista do Iron Maiden, Bruce Dickinson.
Temos uma campanha em andamento no site https://abacashi.com/p/heavensguardianpara levantar os fundos necessários, e todos os fãs deste projeto maravilhoso podem colaborar para tornar isso uma realidade.
Othaniel Alcântara: obrigado pela entrevista!
* O Álbum Unleashed estará disponível em diversas plataformas digitais (Spotify, Apple Music, Deezer etc.) a partir do dia 28 de abril de 2021.
Prelúdio ao Som do Mar (faixa 2 de Álbum Unleashed)
Everton Marin
Fonte: YouTube
Othaniel Alcântara é professor de Música da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador integrado ao CESEM (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical), vinculado à Universidade Nova de Lisboa. othaniel.alcantara@gmail.com / othaniel.alcantara@gmail.com