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Othaniel Alcântara é professor de Música da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador integrado ao CESEM (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical), vinculado à Universidade Nova de Lisboa. othaniel.alcantara@gmail.com / othaniel.alcantara@gmail.com
Othaniel Alcântara Jr.
Sabe-se que, desde o reinado de François I (Francisco I), ocorrido entre 1515 e 1547, já havia o cargo de músico na estrutura administrativa da França. Fontes documentais sobreviventes daquela época, analisadas pelos musicólogos John Spitzer e Neal Zaslaw, atestam a existência de vários instrumentistas - inclusive violinistas - na folha de pagamento da Grande Écurie.
Curiosamente, a palavra francesa “Écurie” refere-se a “Estábulos”. Sobre isso, o maestro Arcadio Minczuk esclarece que em muitas ocasiões, os instrumentistas daquela corporação, de caráter militar, costumavam tocar montados em cavalos.
Musique de la Grande Ecurie
La trompette à travers l'histoire.
Fonte: www.pinterest.fr
Não obstante a escassez de registros documentais, a historiografia musical presume que, de meados do século XVII até o final do século XVIII, La Grande Écurie tinha em torno de 35 músicos permanentes. Tratavam-se, em geral, de instrumentistas de madeiras (flautas doces, flautas transversais, oboés, fagotes, charamelas etc.), metais (trompetes, sacabuxas etc.), além de percussão e violinos, entre outros.
O elenco de artistas da Grande Écurie, em especial, provia de música as aparições públicas do rei em ambientes ao ar livre, como no caso de cortejos militares, festejos (caças etc.), além de acompanhar a leitura pública de decretos reais. Contudo, é relevante dizer que nem sempre atuavam todos juntos. Ao que tudo indica, essa corporação costumava ser subdividida em cinco conjuntos independentes, separados por critérios que levavam em conta, por exemplo, o tipo de instrumento, de evento, de repertório ou o lugar de uma determinada performance.
A Grande Écurie funcionava também como um grande “reservatório” de instrumentistas que, por vezes, e dependendo da época, reforçava os demais “departamentos” de música (vocal e instrumental) da corte francesa: a Chapelle Royale (Capela Real) e a Chambre (Câmara, nas dependências do palácio). A Chambre, em particular, abrigava dois conjuntos musicais:
Nessa vertente, é pertinente mencionar a possibilidade de os violinistas da Grande Écurie, ou pelo menos parte deles, terem sido transferidos para a Chambre no final do século XVI, juntando-se a cantores, atores, violistas e tecladistas, à época já empregados para a diversão do rei e de seu círculo íntimo. Tal fato teria impulsionado, na sequência, a criação dos Vingt-quatre Violons du Roy, considerado o primeiro conjunto formado exclusivamente por instrumentos de cordas friccionadas com arco, semelhante à seção de cordas da orquestra moderna (século XVII).
Enfim, esses três eixos - Estábulos, Capela Real e Câmara - tornaram-se responsáveis pela execução da música nas celebrações religiosas, em diferentes solenidades oficiais e, ainda, pelo entretenimento de sucessivos reis franceses. Mais especificamente, daqueles representantes da Casa de Valois (até 1589) e, posteriormente, pelos monarcas da casa de Bourbon, a começar por Henrique IV, passando pela corte do Rei-Sol (de 1643 a 1715), até os momentos menos tensos da época de Luís XVI. Destaca-se que Luís XVI foi deposto e executado em 1792, como também o foi sua esposa, Maria Antonieta, em 1793.
La Grande Écurie - Versalhes
Fonte: www.flickr.com
La Grande Écurie - Versalhes
Fonte: www.ursusbooks.com
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