Em 2020, o mundo se viu diante de uma nova doença pandêmica chamada covid-19, causada pelo novo coronavírus. Mas os efeitos da pandemia em nossa saúde vão muito além dos sintomas da doença propriamente dita. Tudo mudou. Tivemos de aprender muito rapidamente a lidar com as incertezas do presente e trabalhar as perspectivas de futuro. Hábitos e costumes tiveram de ser reaprendidos. Alterações higiênicas, alimentares, escolares, econômicas e laborais foram introduzidas de maneira muito intensa e sem tempo de metabolizar. Todas as incertezas e temores, sabidamente, provocam reações em nosso corpo que podem gerar uma gama de adoecimento e transtornos como insônia, ansiedade, depressão, alcoolismo ou quadros mistos.
A MTC é capaz de agir no indivíduo com bons resultados em muitas situações de adoecimento, atuando por meio de uma de suas ferramentas. A acupuntura, técnica milenar de agulhamento desenvolvido há milhares de anos, é uma parte dentro da medicina tradicional chinesa que está razoavelmente difundida no ocidente. Atualmente, vários estudos científicos bem desenhados apresentam evidências fortes de eficácia da acupuntura como opção terapêutica adicional para tratar várias situações clínicas. Pelo risco epidemiológico de contato e disseminação do paciente infectado, na fase aguda não é usual a realização desta prática. Mas sinais e sintomas apresentados pós-covid-19 têm sido tratados com bons resultados, como síndrome de fadiga crônica, insônia pós internação prolongada, angústia e depressão.
Outras situações não diretamente ligadas a esta doença são as que se referem às práticas de isolamento. Neste caso, houve aumento de transtornos mentais, violência, adição (álcool, cigarro e outras drogas), fobias, transtornos alimentares, obesidade, etc. Os extremos de idade ficaram muito mais susceptíveis a este isolamento. A ausência de seus pares e, praticamente, sem ter o que fazer, levou ao agravamento de problemas pré-existentes e surgimento de novos.
O Acupunturiatra (médico que tem a acupuntura como uma das suas ferramentas), ao avaliar a situação em que o cliente/paciente se encaixa, pode se valer de diversas técnicas para atingir o melhor efeito para aquele paciente. Desde agulhas específicas, estéreis e descartáveis, até outros materiais, como por exemplo, moxa de calor, aparelhos elétricos com eletrodos, laser, auriculoterapia com esferas metálicas e até sementes, que quando manipulados em pontos específicos, desencadeiam reações sistêmicas e locais, resultando em alívio e cura dos diversos sintomas. Este leque de possibilidades terapêuticas é interessante, pois propicia o uso de algumas técnicas, mesmo para quem tem medo de agulhas. Enfatizando que estas são muito finas e na grande maioria das vezes sua inserção no corpo não ultrapassa poucos milímetros. Uma sessão de acupuntura é um momento de cuidado e tratamento, e não de dor e desconforto.
A ação da acupuntura ocorre por estímulo de fibras nervosas que chegam até a medula e o cérebro, resgatando o equilíbrio do organismo através da liberação de neurotransmissores, capazes de modular as funções fisiológicas e a imunidade, bem como corrigir alterações patológicas existentes. O tratamento acupunturiátrico trata não somente o sintoma, mas o indivíduo de uma forma global.
Hoje, considerada como prática integrativa, a acupuntura pode, e deve, ser usada junto à medicina convencional. Trata-se de uma técnica milenar chinesa com baixa incidência de efeitos colaterais e pouquíssimas contraindicações, podendo, portanto, potencialmente diminuir o uso de medicamentos.
A Organização Mundial da Saúde recomenda o uso da acupuntura para mais de 200 patologias, como dores de uma forma geral, náuseas, vômitos, rinites, alergias, cefaleias, efeitos colaterais de quimioterapia, ansiedade, depressão, fibromialgia, etc. No Brasil, a acupuntura é realizada tanto no Sistema Único de Saúde (SUS), quanto na rede privada ou de convênios. Isto propicia que todos tenham acesso a uma prática tão antiga e, ao mesmo tempo, tão contemporânea.
Para finalizar, a acupuntura é uma especialidade médica regida e fiscalizada pelo Conselho Federal de Medicina desde 1995, portanto, sempre deve ser realizada por um médico especialista, com título registrado pela Associação Médica Brasileira e Conselho Regional de Medicina.
*Wania Marcia Rabelo é médica acupunturiatra, membro da diretoria do Colégio Médico de Acupuntura de Goiás
*Solomar Marques é médico pediatra e acupunturiatra, membro da diretoria do Colégio Médico de Acupuntura de Goiás