Dezembro de 1987, ano significativo para mim e para muitos colegas que escolheram a mesma profissão, foi o ano em que prestei vestibular para o curso de medicina veterinária na Universidade Federal de Goiás. Passados 33 anos, muita coisa mudou, surgiram dezenas de escolas de veterinária, em Goiás e em todo o país. Estas chegaram com novidades como novos modelos de seleção além do vestibular e conceitos de experiências estudantis que podem inserir estes jovens em trabalhos voltados para as comunidades em que vivem.
Iniciei o ano de 1988 com muita expectativa, sensação de dever cumprido e com grande vontade de colocar em prática tudo o que me levaria aos rumos profissionais da minha vida. Em fevereiro tive o primeiro dia de aula, era muita empolgação e entusiasmo juvenil, mesmo com os trotes abusivos e violentos que faziam parte dos costumes daquela época percebíamos a vontade dos colegas de estar ali, vivendo o início de um curso que oferecia certo status no Campus. Apesar dos diversos tapas e cascudos que eram dados nas cabeças raspadas ao invés dos merecidos parabéns aos novos acadêmicos, estávamos todos exalando esperança e força vital.
Após alguns meses de estudo e muita curiosidade, chega agosto, vulgo mês do cachorro louco, expressão atribuída devido à observação popular nascida entre os povos europeus que percebiam no final do verão um aumento do número de cadelas no cio e como consequência o surgimento matilhas de vira-latas sedentos, loucos pela disputa de fêmeas. Os bichos brigavam entre si e acabavam se contaminando com a mordida de algum cão que tinha a raiva canina. Está explicado da escolha do mês de agosto para as campanhas de vacinação anti rábica de cães e gatos promovidas pelas secretarias estadual e municipal de saúde sempre com os acadêmicos de veterinária na linha de frente da vacinação.
Íamos todos na manhã de sábado armados de conhecimentos básicos iniciais, nossos jalecos brancos e muita boa vontade. Postos de vacinação espalhados pela cidade, alguns em áreas nobres e outros nas periferias menos favorecidas. Considerava-se esse momento uma grande aventura permeada pelo sentimento de ser útil e de poder cumprir com o dever de zelar pela saúde dos animais e consequentemente das pessoas.
As histórias eram muitas, as que traziam as dificuldades vividas eram as melhores e mais engraçadas. Os cães eram trazidos aos bandos muitas vezes por meninos descalços mas felizes por contribuírem com algo importante nas ruas poeirentas que moravam. Um dos prazeres deste dia era descobrir os nomes deste animais, celebridades, artistas, atletas e até políticos apareciam para serem vacinados. Dentro de sacos de linhagem numa alagazarra danada chegavam Xuxas, Pelés, Gretchens e Sarneys, eram os gatos que nos faziam andar na corda bamba que é vacinar sem ser mordido, arranhado ou entrar na briga feito bicho.
Toda essa movimentação das vacinas para imunizar a população contra a COVID-19 me remeteu aos esforços que são e eram feitos por parte daqueles que estão na linha de frente, na lida braçal com as seringas na mão.
Hoje a classe veterinária pede para que todos sejamos vacinados e continuar o trabalho por uma causa muito nobre. Tenho a certeza que a maioria dos acadêmicos dos cursos da área da saúde querem fazer parte deste grande mutirão nacional, participando nas ações de aplicação da vacina para combate ao SARS-COV 2 e ajudando a fortalecer os conceitos de prevenção e amor ao próximo. Que venham as doses para todos, nosso entusiasmo é o da vida, o de viver!
*Eduardo Luiz Mesquita é médico veterinário e distribuidor de produtos veterinários VETMAX