Michelle Rabelo
Goiânia - Criar uma obra que homenageasse a cidade de Goiás pelos seus 300 anos - celebração que ocorrerá oficialmente em 2027. Foi esse o pedido que o artista plástico ouviu ao telefone cerca de dois anos atrás. Do outro lado da linha, estava o governador Ronaldo Caiado, que tinha encontrado, oriundo do acervo da extinta estatal Metago (Metais de Goiás), caixas e mais caixas de pedras preciosas. O resultado dessa conversa foi apresentado a um seleto grupo de convidados nesta quarta-feira (7/5), em um jantar no Palácio das Esmeraldas, em Goiânia.
"A ideia foi dar um presente à altura da cidade de Goiás, nossa cidade-mãe, tão querida
e importante Vila Boa", disse Caiado. (Foto: Adalberto Ruchelle e Walter Folador)
Abrindo o calendário, antecipado, de comemorações pelo trecentésimo aniversário da cidade, a inauguração da obra, um painel de 1,73 metro por 2,33 metros, também marca uma espécie de encerramento com chave de ouro para Caiado, que deixa o cargo de governador depois de oito anos para concorrer ao Planalto em 2026.
"A ideia foi dar um presente à altura da cidade de Goiás, nossa cidade-mãe, tão querida e importante Vila Boa", disse o chefe do Executivo estadual, ao destacar a dimensão do trabalho, no qual Siron utilizou 16,7 mil pedras preciosas e semipreciosas, como quartzos fumê, calcedônias, águas-marinhas, andaluzias, berilos e crisoberilos.
'Solo Goiano' já tem destino definido: no dia 26 de julho segue para o
Palácio Conde dos Arcos, na antiga capital. (Foto: Adalberto Ruchelle e Walter Folador)
Encomenda feita, o Governo de Goiás, por meio da Secretaria Estadual de Administração (Sead), oficializou o contrato - que girou em torno de R$ 750 mil, e imediatamente Siron iniciou o processo criativo. O artista conta que ficou encantado com o material. Haviam pedras de todos os tamanhos e cores, gemas polidas e outras que estavam em processo de polimento.
"Devido a essa diversidade, pensei em criar algo como um mosaico, o que ganhou forma, de fato, quando me lembrei que havia comprado, há alguns anos, um mapa da área", recorda, fazendo referência a um plano de ordenação territorial da antiga Vila Boa, datado de 1728.
Siron utilizou 16,7 mil pedras preciosas e semipreciosas para
montar a instalação. (Foto: Adalberto Ruchelle e Walter Folador)
Logo, o documento, que mostra como a cidade se ergueu em meio à Serra Dourada, se transformou na base da obra, batizada por Siron de 'Solo Goiano'. A representação artística do território envolveu ainda o uso de compensado naval, pó de mármore branco e moldura folheada a ouro. "Eu queria fazer algo que eu nunca fiz. Tive que revisitar a nossa história e estudar a nossa geologia. Foi um ano de muito trabalho, mas consegui o que eu queria: celebrar o patrimônio histórico da cidade com elementos naturais do Cerrado", recorda o artista plástico, famoso por transitar confortavelmente entre técnicas, temas e linguagens.
'Solo Goiano', exposto no salão nobre do Palácio das Esmeraldas, já tem destino definido: no dia 26 de julho, data da tradicional cerimônia de transferência simbólica da capital para Goiás, a instalação segue para o Palácio Conde dos Arcos, na antiga capital.
Para a secretária de Cultura, Yara Nunes, não havia melhor forma de dar o pontapé às comemorações do que a apresentação da obra de Siron. “Além de representar o mapa, datado de 1728, temos uma amostra do que realmente é o solo goiano. Essas mais de 16 mil pedras demonstram o quão precioso também é o nosso território, elas contam um pouquinho mais das nossas origens. É uma forma de eternizar a história e a nossa identidade cultural.”, refletiu.
"Este projeto reforça o compromisso da cultura goiana com a preservação do nosso patrimônio e a valorização dos artistas que traduzem, com sensibilidade, a alma do nosso estado", completou.
A obra, batizada de 'Solo Goiano', é um painel de
1,73 metro por 2,33 metros. (Foto: Adalberto Ruchelle e Walter Folador)
Laços afetivos
Segundo Caiado, Siron foi convidado para a produção da obra por ser vilaboense e reconhecido por sua profunda ligação com o território goiano. "Não podia ser outra pessoa. Ele é um dos artistas plásticos brasileiros mais reconhecidos da atualidade e é safra nossa", brincou o governador.
Ao comentar sua proximidade com o Estado, onde manteve sua base mesmo ganhando notoriedade nacional e internacional, Siron se disse emocionado. "Trabalhar nessa instalação foi, na verdade, um presente que eu ganhei. Imagina só: um menino, que nasceu na Rua da Abadia, no centro histórico da cidade de Goiás, hoje está aqui, podendo retribuir com sua arte."
Reconhecimento
Para a primeira-dama e coordenadora do Goiás Social, Gracinha Caiado, 'Solo Goiano' é muito mais que uma obra de arte. "É um sonho realizado conseguir aproveitar aquelas milhares de pedras em algo que vai ser apreciado por todos os goianos. A instalação já é uma espécie de patrimônio e a sua entrega é mais que um ato cultural, é um ato de amor à nossa terra e à cidade que deu origem ao Estado”, disse.
“A cidade tem muita história, construída por muita gente. E essa obra de Siron, através de pedras preciosas, faz uma ligação com a nossa maior poetisa, Cora Coralina, que construiu o seu poema sobre pedras. Pedra que significa, ainda, a resistência dessa cidade que teve os solavancos, mas que se manteve de pé, com uma grande missão de ser a guardiã da memória dos goianos e dos brasileiros”, completou o prefeito da cidade de Goiás, Anderson Gouveia.