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Tatiana Potrich
Tatiana Potrich

Tatiana Potrich é curadora, produtora de arte, escritora e designer. Formada em Design de Moda pela UFG, possui pós-graduação em Arte Contemporânea e História do Brasil, também pela UFG, e em Filosofia da Arte pela UEG. / jornalistas@aredacao.com.br

Curadoria afetiva

Quem são os Curucucus?

| 25.05.25 - 08:36 Quem são os Curucucus? (Foto: Divulgação)
 
Tentarei fazer um parâmetro dos extrovertidos curucucus das Cavalhadas com a fonética onomatopeica da língua tupi-guarani, mas primeiro recapitularemos a sua origem. Denominados como mascarados, os curucucus são uma versão moderna dos bufões medievais, conhecidos na Idade Média como bobos da corte, funcionários cuja função era entreter e divertir o Rei, mas, ao mesmo tempo, simular críticas disfarçadas, exercendo um papel fundamental de "conselheiro irreverente". Espalhafatosos, aparecidos, exagerados, os bufões tinham a licença poética para representar verdades não ditas e serem um tipo de válvula de escape para amenizar as tensões sociais.
 
Predominantemente cristão, o império português expandiu seus domínios na Península Ibérica travando grandes batalhas, especialmente contra os mouros, ditos pagãos ou infiéis. Deste embate religioso emergiram histórias, contos e encenações de um imaginário coletivo que deu origem à manifestação das Cavalhadas, sempre associada à Festa do Divino Espírito Santo.
 
Em nosso Estado, ela criou tradições culturais e históricas. A figura emblemática dos nossos bufões atuais não poderia faltar. Personagens enfáticos neste teatro sobre expansão territorial em nome de Deus, eles são a ponte mística entre os dois cavaleiros rivais, o elemento fora da curva, o outsider, o símbolo tupiniquim do bobo da corte da realeza brasileira, ops, da realidade brasileira.
 
O termo curucucus provavelmente surgiu do som produzido pelos barulhos dos acessórios de sua fantasia (como guizos, latas e chocalhos). Por pertencerem ao ambiente rural e sertanejo, a semelhança fonética com os termos curumim, ou surucucu pode não ser apenas uma coincidência.
 
Do tupi-guarani suruku'ku "aquele que morde muitas vezes" pode ser uma característica dos nossos astutos curucucus, ou até mesmo as traquinagens dos pequenos curumins, do tupi kuru'mi, menino ou jovem. Sagazes, travessos e imprevisíveis, fantasiados com chitas, fitas e flores coloridas, seus ruídos ensurdecedores traduzem um significado invertido da cobra, que tem o nome científico de Lachesis muta, pelo fato de ser muda, sem o guizo na cauda, ou aquela ideia de quando um curumim (ou menino) está bem quieto, deve ser, porque está aprontando alguma coisa. 
 
Os curucucus, literalmente, não mordem, mas provocam sensações doloridas, sedutoras, assustadoras e surpreendentes, assim como a figura misteriosa de uma serpente ou o sarcasmo de uma criança mal intencionada. Um misto de medo e carinho, admiração e atenção, perigo e cuidado. Surucucu, curucucu e curumim sibilam simultaneamente como um movimento fonológico, uma melodia ou um conto oral relatado através de gerações que entrecruzaram línguas, costumes e ideais. Na língua banto do quimbundo, curucucu significa mariposa-bruxa, confirmando mais um sentido místico do termo.
 
Para conhecer um pouco mais desta instigante manifestação cultural, você é nosso convidado para o "Projeto Goianins - cultura popular goiana para artistas mirins", uma mostra de obras da artista naif, Helena Vasconcelos; das pinturinhas realizadas pelas crianças na oficina de arte, pela professora Laura Macêdo; na reprodução delas nos muros das casas dos moradores do entorno do Jardim Potrich, por EZO e um vídeo das fotografias de Eliane de Castro, sobre as Cavalhadas de Pirenópolis e Jaraguá.
 
Uma manifestação com referências à batalha de dois exércitos rivais, 'catalisada' pelos nossos arteiros cucurucus e, finalmente encerrada com a bandeira da pomba da paz erguida!
 

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Tatiana Potrich é curadora, produtora de arte, escritora e designer. Formada em Design de Moda pela UFG, possui pós-graduação em Arte Contemporânea e História do Brasil, também pela UFG, e em Filosofia da Arte pela UEG. / jornalistas@aredacao.com.br

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