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“Passamos o primeiro semestre apagando incêndios”

Gilvane Felipe fala dos desafios da Agência | 26.07.11 - 10:30 “Passamos o primeiro semestre apagando incêndios” Presidente da Agepel, Gilvane Felipe, em frente à sede da pasta que passará por reformas e se transformará em Palácio da Cultura. Foto: (Adalberto Ruchelle)

Nádia Junqueira

Problemas políticos, administrativos e financeiros tomaram o primeiro semestre da gestão de Gilvane Felipe a frente da Agência de Cultura Pedro Ludovico Teixeira. Candidato a deputado estadual pelo PPS nas últimas eleições, Gilvane é um nome do meio cultural desvinculado dos tradicionais políticos de Marconi Perillo. O presidente, em entrevista à Redação, fala das dificuldades que enfrentaram com o contingenciamento parcial da lei Goyazes, do desafio de fazer o FICA com equipe não nomeada e com descrédito de grupos políticos em relação à uma equipe nova, que não esperavam assumir o poder. O presidente fala da intenção de darem uma nova cara à gestão, defende modelo de gestão por organizações sociais e fala da criação da Secretaria de Cultura. Além disso, ele discorre sobre as pressões que sofrem da oposição e, inclusive, de grupos de dentro do governo.    


AR: Gilvane, a AGEPEL completa seis meses de gestão marcados por dificuldades e desafios, como o corte de verba da Goyazes. Como você avalia o trabalho realizado até agora?


Digamos que passamos esses seis primeiros meses apagando incêndios e ainda estamos apagando. Começamos com várias pendências em todas áreas: de Teatro Goiânia fechado a Gustav Ritter jogado às moscas, até o maior problema que enfrentamos que foi o contingenciamento parcial da lei Goyazes. Ao mesmo tempo tivemos que começar o trabalho, tomar pé da situação e apagar os incêndios.


Outro problema que enfrentamos foi político e não administrativo. As eleições passadas foram polarizadas e cada candidatura tinha seu grupo que trabalhava propostas para cultura e já se considerava detentetor da cadeira da Agepel, assim que seu candidato ganhasse.

"Acontece que o Governador Marconi Perillo venceu as eleições e optou por um grupo novo e isso gerou problemas. Porque começamos a apanhar da oposição, o que é natural, mas também de segmentos da situação."


Quando veio a lei goyazes a coisa ficou feia mesmo. Primeiramente porque setores do governo defendiam contingenciamento total da lei. Mas negociamos com governador que propôs corte temporário de 50%. E aí tivemos problemas com pessoal do governo (que defendia contingenciamento total) e com os artistas (que eram contra qualquer contingenciamento). Apanhamos de todos os lados, foi um momento muito difícil, de “inferno astral”. Mas nossa equipe é boa, tem biografia limpa e tem que ser vencida no debate.


AR: E o FICA? O que representou no trabalho desse primeiro semestre?


"Nosso rubicão se chamava FICA. Aqueles grupos que me referi ficaram pressionando nossa equipe: “tá na cara que esse grupo não consegue fazer o FICA”.

Tanto que saiu por muito tempo na imprensa que esse ano o festival não sairia. Tinha uma certa central de rumores criando clima de que o evento seria um fracasso, um fiasco. E foi um grande desafio, porque nossa equipe foi nomeada dia 9 de maio e o FICA começou 14 de junho. Apenas o Décio (Coutinho, diretor de ação cultural) e chefe de gabinete foram nomeados em março. Nao falo isso para passar de coitadinho. Quando tudo está organizado já é difícil, mas a gente não tinha nada.


Nós queríamos fazer algo inovador, mas não poderíamos mudar demais porque não poderíamos cair no risco de ser um fiasco. Queríamos fazer mudanças, mas sem cometer temeridades. Qualquer pisada na bola todo mundo ia cair em cima. Mas fizemos mudanças: trouxemos a comunidade da cidade de Goiás para trabalhar com a gente, reaproximamos a Secretaria de Meio Ambiente do festival, que estava afastada, e fizemos uma seleção transparente de músicos que se apresentaram. Contratamos site para que artistas se cadastrassem e três curadores de fora, além de dois daqui. Foram 216 inscritos, enquanto ano passado foram 50, o que mostra que o site permitiu que mais gente se inscrevesse.


"O pior é que nós encontramos aqui na AGEPEL, quando chegamos, pacotes lacrados com materiais de artistas que se inscreveram ano passado. Nem abertas as propostas eram, o critério era mesmo QI (quem indica)".

Enquanto eu estiver aqui isso não vai ser assim. É claro que seleção tem desgaste, se contratamos curadoria de fora, uma panela reclama; se contratamos daqui, outra panela reclama.  Não há consenso possível nessa área artística, mas  temos que buscar critérios transparentes, esse é nosso esforço.

"O que valeu é que nós vencemos e atravessamos esse rubicão e ali fizemos nosso batismo de fogo. Sem falsa modéstia, as pessoas falam que foi o melhor FICA dos últimos anos, e eu acredito que foi, porque estive presente nos anteriores como espectador".

A intenção é que o próximo fica seja completamente diferente, com a nossa cara, e agora temos tempo para pensar nosso planejamento estratégico participativo.

AR: Há rumores de que o Centro Cultural Oscar Niemeyer será transformado numa organização social. Procede?

"O CCON está autonomizado, completamente desvinculado da Agepel e Chaul é gestor."

Não quero entrar nessa discussão. Mas há sim a possibilidade de ser transformado em OS. A nossa gestão vai comprar essa idéi de adotar OS. As pessoas as confundem com privatizações. Não tem nada a ver. A OS significa passar uma atividade que estado realiza ou espaço que gerencia para adminsitração de uma associacão sem fins lucrativos. Nao é empresa, é uma associação, como o caso da Orquestra Sinfônica de São Paulo.


Eu lancei essa discussão com a Orquestra Goyazes (leia mais aqui). Mas disse a eles que queria ouvi-los e que compraria esse debate se estivessem juntos. Jogamos a bola pra eles e os músicos se reuniram, discutiram e querem que a Orquestra se torne organização social. Agora estamos em fase de contratação de consultoria de um especialista em OS para nos ajudar a fazer a transição.

AR: O que muda com as organizações sociais?


O estado assina contrato de gestão. Exemplo:  a OS se encarrega de arrecadar 20% dos recursos para cobrir custos da orquestra e estipula 12 apresentações no ano para o governo. O resto é com eles: eles caem no mundo, vão vender shows e fechar patrocínios.


AR: Chaul, enquanto presidente da Agepel na gestão Perillo, deixou algumas marcas de governo como a criação do FICA, do Canto da Primavera e construção do Centro Cultural Oscar Niemeyer. Quais marcas essa gestão quer deixar?


Vamos definir com mais propriedade essas marcas com o planejamento que vamos fazer agora. Mas a interiorização é uma das marcas que queremos deixar. Outra é a participação; queremos inovar nessa forma de encaminhar as coisas nos valendo de editais em diversos segmentos. Vamos chamar representantes para nos ajudar na elaboração e fazermos um processo de cima para baixo.

"Queremos fazer do edital uma prática de forma a acabar com essa política de atendimento de balcão e de favores. Não vamos trocar uma gravação de CD em votos, não faz parte do que acreditamos".


Também queremos ter a inovação como marca. Inovar nas propostas, nos modelos de gestão porque isso é a característica da nossa equipe. Não temos compromisso de deixar as coisas como estão. Devemos incluir a economia criativa, a interiorização e a cultura digital dentro de nossa pasta, o que implica mudar o organograma. Hoje são apenas três diretorias aqui, sendo que a de ação cultural está sobrecarregada. Por fim, queremos ter o sistema de cultura consolidado, com a criação da secretaria (o projeto deve ir pra Assembleia Legislativa em agosto), fundo e conselho funcionando.


AR: Há dois editais da lei Goyazes com projetos aprovados que ainda aguardam recursos. Qual a expectativa de financiamento desses projetos e de retomada da integralidade da lei?


Eu tenho conversado com governador sobre a importância de retomar a integralidade. Nessas coisas de governo vencemos muitos pleitos e perdemos outros. Ganhamos parcialmente não deixando que ela fosse integralmente contingenciada. Mas isso não pode demorar muito tempo, porque vai acumulando um pacote de projetos que aguardam financiamento, o que gera um problema enorme. Nao é só questão das pessoas estarem recebendo menos, é uma mesa acumulando processos. E até voltar a integralidade, até cobrir todos projetos que aguardavam financiamento, demora a normalizar.

"Levei a proposta de retomar imediatamente, ele ouviu, vai consultar financeiro e acredito que teremos novidades antes de janeiro, mês proposto por ele para retomarmos integralidade".


AR: Depois do FICA, o evento mais esperado é o Canto da Primavera, que será realizado nesse segundo semestre. Já temos alguma novidade em relação a esse festival?


De cara temos uma orientação: transformar o Canto em um evento de referência da música no país. Não queremos que seja apenas uma semana de vários shows, em que os artistas ganham cachês e as pessoas assistem aos shows. Isso acontecerá, mas é muito pouco. Durante o Canto, queremos que aconteça vários eventos paralelos: a realização de eventos ligados a sindicato de músicos, convidar Sebrae para realizar rodadas de negócios, feiras de produtos e serviços. Queremos convidar expressões nacionais na discussão da música, para debater desde temas como música na internet até a profissionalização do músico.


Em relação à Pirenópolis, diferente da Cidade de Goiás, temos um problema: não podemos ter shows muito atrativos, por problemas de segurança pública por conta do entorno de Brasília.

"A ideia e trazer nomes de grande expressão na música, mas não de massa, que estão na mídia; não queremos shows absolutamente populares. A ideia é fazer evento de música para músicos, mas também garantir presença significativa do público."


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