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Goiânia

Colégio José Lobo inicia projeto experimental de protagonismo juvenil

Ação envolve toda a comunidade escolar | 20.05.16 - 15:40 Colégio José Lobo inicia projeto experimental de protagonismo juvenil (Foto: divulgação)
Lucas Cássio

Goiânia -
O Colégio Estadual José Lobo, no Setor Rodoviário, em Goiânia, deu início nesta sexta-feira (20/05) ao projeto de protagonismo juvenil, que será desenvolvido este ano pela Secretaria de Educação, Cultura e Esporte de Goiás (Seduce) em parceria com o Instituto Inspirare, de São Paulo.
 
O projeto é experimental e envolverá todas as turmas de Ensino Fundamental (segunda fase) e do Ensino Médio da escola. Hoje a escola atende 830 estudantes nos três turnos. A proposta foi apresentada oficialmente à comunidade estudantil no dia 28 de março durante encontro com a diretora executiva do Instituto Inspirare, Anna Penido.
 
O projeto será coordenado pela startup Mel (Media Education Lab Serviços de Conteúdo Educacional e Treinamento), que já realiza um trabalho semelhante em uma escola pública de Alagoas. Os encontros serão quinzenais, a partir de junho e se estenderão até o mês de setembro.
 
Proposta coletiva
De acordo com a diretora do Colégio Estadual José Lobo, Maura Alves Santos, a expectativa com os bons resultados do projeto são muito grandes, especialmente porque é uma iniciativa que está sendo construída desde o início com o total envolvimento de alunos e professores.
 
Antes de se reunir com alunos e professores do C. E. José Lobo, Anna Penido fez uma visita à secretária Raquel Teixeira, onde foram acertados os últimos detalhes do projeto. Confira abaixo entrevista com a diretora executiva do Instituto Inspirare.
 
Jornal A Redação - O que a senhora pode nos adiantar sobre esse projeto experimental de protagonismo juvenil que será implantado no Colégio Estadual José Lobo?
Anna Penido – Eu fui privilegiada com o convite de vir trabalhar com a comunidade do Colégio José Lobo, uma das escolas em que os alunos estão muito motivados a construir uma educação de mais qualidade, não só reivindicando, mas também participando dessa construção. É um privilégio trazer uma metodologia que vai ajudar a entender o que os alunos, professores e gestores aspiram para a escola e também envolvê-los em oficinas de cocriação para que as mudanças possam surgir dentro da própria comunidade escolar. Essas mudanças podem ser implementadas diretamente sob a governabilidade da escola ou ir tomando forma de propostas proativas para a Seduce.
 
AR  - A escola foi escolhida por algum critério específico?
A.P. - Essa foi uma das escolas mais aguerridas no processo de ocupação. Ela se diferenciou porque ela não estava voltada única e exclusivamente para a questão das OSs, mas de fato eles aproveitaram esse movimento para repensar a escola e começar a fazer proposições muito concretas para a melhoria da própria escola. Em função disso, a secretária combinou com eles, que se eles desocupassem, ela iria propor um processo de coconstrução, de criação de caminhos para uma escola melhor.
 
AR - A construção da proposta metodológica foi coletiva, tendo começado no mês de março a partir de uma reunião com a comunidade estudantil. Esse primeiro passo já é um caminho para envolver professores, alunos, pais de alunos e comunidade?
A.P. - A gente só entrou na escola depois que a gente teve o apoio da comunidade escolar. Primeiro tivemos uma reunião aqui com a equipe da secretaria e com representantes de todos os segmentos da escola, inclusive com os pais. Apresentamos o que seria a metodologia desse trabalho e tivemos o sinal verde, após um diálogo com esses representantes. No dia seguinte, apresentamos esse trabalho para um grupo mais expandido da escola, que também se entusiasmou com essa possibilidade. E a partir daí foram traçados compromissos, objetivos e metas, porque a ideia não é ficar simplesmente no pleito, é também a participação e comprometimento de todos.
 
AR - Qual sua expectativa com os resultados desse projeto?
A.P. - No primeiro plano é da gente de fato conseguir construir um caso de sucesso e mostrar que é possível resolver problemas crônicos ou momentâneos da educação com envolvimento da comunidade escolar se criarmos os canais eficientes para isso. Canais de diálogo, de proposição, de escuta e principalmente de coconstrução. A ideia é criar algo no José Lobo que possa ser levado para todas as escolas pelo menos de Ensino Fundamental II e Médio da rede, já que é uma metodologia focada nos alunos adolescentes e jovens.
 
AR - As ações e programas do Instituto Inspirare se orientam pelo conceito de educação integral inovadora. Quais são os pilares que sustentam esse conceito e porque ele é tão importante na formação dos estudantes?
A.P. - A missão do instituto é inspirar inovações que possam melhorar a educação brasileira. Existem algumas janelas hoje de oportunidade para isso. Uma delas é a participação dos próprios alunos. É uma geração nova que funciona de forma diferente. Os interesses e a cultura são diferentes. Como a gente pode incorporar o universo dessas novas gerações na escola para aproximar esses dois mundos? O outro pilar importante é o da educação integral. Não pode ser uma educação simplesmente focada no acadêmico, no desenvolvimento do intelecto. Precisa ser uma educação que realmente prepare para a vida, trabalhe as dimensões socioemocionais, físicas e culturais. Tem ainda um terceiro pilar que é esse da gente deixar que essas inovações possam ir entrando no universo das escolas para que a gente possa criar um processo educacional mais contemporâneo. O modelo de escola hoje vigente, por mais que gente faça da melhor maneira possível, não responde mais as expectativas dos alunos e nem as demandas da sociedade. Qual o cidadão que a gente precisa formar hoje? É aquele que está numa sala, nas carteiras enfileiradas e que a cada 50 minutos é encharcado de conhecimento de fora para dentro ou é um cidadão que é capaz de resolver problemas sozinho, trabalhar de forma mais prática e personalizada? Então é um pilar que propicia a gente se desapegar desse modelo tão arraigado, permitindo que outras coisas aconteçam e que a escola tenha acesso a outras referências. Isso vai promover a construção de outras maneiras de funcionamento do processo educativo.
 
AR - Neste primeiro momento do projeto, quais são as ações que já são possíveis de serem trabalhadas?
A.P. - Existem algumas demandas claras da comunidade escolar como infraestrutura; relacionamento e participação no ambiente escolar e principalmente a metodologia de ensino e aprendizagem. Começando pela metodologia: os meninos querem aulas mais dinâmicas, mais interessantes e os professores estão se comprometendo a buscar essas novas metodologias. Em relação ao ambiente, o projeto já traz uma nova abordagem de participação e colaboração. O projeto já vai conseguir trazer uma nova dinâmica nesse sentido para a escola. No caso da infraestrutura, às vezes não basta simplesmente dar uma melhorada no que está ali. Os alunos estão buscando outros espaços, como praças e ambientes mais arejados. Vamos, em conversa com eles, buscar essas novas referências.
 
AR - Goiás vai ser o primeiro Estado a implantar essa metodologia. É um projeto piloto?
A.P. - Essa metodologia já vem sendo testada desde o ano passado na rede municipal de Salvador e de São Miguel dos Campos (Alagoas). São redes pequenas. Aqui a ideia é de que a José Lobo seja referência na rede de todo o Estado. A gente vai estar pela primeira vez trabalhando com o Ensino Médio, o que é estimulante, porque eles demonstram uma vontade grande de formar uma escola que eles se identifiquem e na qual eles tenham prazer e estímulo não só para aprender, mas também para se desenvolver integralmente.
 
AR - Então, de certa forma, ouviu-se o recado dos estudantes nas ocupações?
A.P. - Sem dúvida esse projeto é uma tentativa da secretaria de abrir espaço para um diálogo mais permanente com os alunos e é uma boa resposta ao movimento de ocupação que aconteceu. Vamos esperar que essa primeira experiência traga frutos que não só atendam as expectativas da escola, mas que também mostrem para a secretaria que é possível trabalhar de forma mais aberta, com mais colaboração e protagonismo da comunidade escolar.
 
AR - Na rede estadual existem várias escolas de ensino médio em tempo integral, onde os alunos são convidados a refletirem sobre seu futuro com a eletiva Projeto de Vida. Outra eletiva - Protagonismo Juvenil -, também caminha no sentido de fazer as mudanças necessárias para melhorar a qualidade do ensino e conter a evasão. A rede estadual já está em sintonia com os caminhos apontados pelo Instituto Inspirare, não?
A.P. - As escolas de tempo integral são a janela de oportunidade. Muitas escolas afirmam ter pouco tempo e muito conteúdo e que por isso não dá pra fazer metodologias diferentes. As escolas de tempo integral criam o espaço, tempo e as relações necessárias para que as inovações possam acontecer de forma mais fácil. A gente sabe que hoje, em termos de orçamento, é difícil transformar todas as escolas em tempo integral. Por isso é fundamental que as unidades que já são de tempo integral possam criar inovações que migrem para as escolas de tempo regular. Uma eletiva como o ‘Projeto de Vida’ é algo que deveria se encaixar na grade curricular de todas as escolas de ensino médio, por exemplo. Às vezes é melhor abrir mão de uma disciplina mais formal para que os alunos possam pensar suas aspirações, seus projetos de longo prazo, até para ele ver mais sentido no aprendizado das próprias disciplinas tradicionais. Tem coisas que estão brotando nessas escolas de tempo integral que estão sendo muito inspiradoras e que estão sendo geradas pela própria rede, mas que precisam ser disseminadas.
 
AR - As escolas do Ensino Médio focam prioritariamente o Enem. Existe alguma ferramenta para unir isso a essa nova metodologia?
A.P. - O Enem é uma prova diferente dos outros vestibulares tradicionais. Ele busca a interpretação, conexão com a realidade. É possível sim se os professores estiverem dispostos a repensar suas metodologias e trazer novas formas de trabalhar esses mesmos conteúdos com menos memorização e mais desenvolvimento da própria compreensão do que aquilo significa. Isso exige também uma formação dos professores com muita troca entre eles para encontrar outras maneiras de se trabalhar os mesmos conteúdos que levem o desenvolvimento de outras competências. Isso sem falar do engajamento dos alunos, que é um dos maiores desafios hoje do ensino médio. Hoje nós perdemos alunos e ficamos achando que é em função de oportunidade de trabalho, mas a grande maioria dos alunos evade por falta de interesse. Isso é a pior coisa que pode acontecer para eles e para a sociedade, já que é por meio do processo educativo que eles se transformam em cidadãos mais atuantes e mais produtivos.
 
PERFIL
Anna Penido é diretora executiva do Instituto Inspirare. Jornalista formada pela UFBA, com especialização em Direitos Humanos pela Universidade de Columbia e em Gestão Social para o Desenvolvimento pela UFBA. Em 2011, participou do programa Advanced Leadership Initiative da Universidade de Harvard. Trabalhou como repórter para o jornal Correio da Bahia e para as revistas Veja Bahia e Vogue. Integrou as equipes da Fundação Odebrecht e do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia. Fundou e dirigiu a CIPÓ – Comunicação Interativa, da qual é conselheira. Coordenou o escritório do UNICEF para os Estados de São Paulo e Minas Gerais. É fellow Ashoka Empreendedores Sociais e líder Avina.

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