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Voluntários também acolhem os feridos | 15.04.16 - 13:29
Alice foi castrada em um evento de esteriliação de baixo custo (Foto: Maria José)
Kamylla Rodrigues
Goiânia –Enquanto os projetos públicos de castração gratuita não são colocadas em prática em Goiânia e em outras cidades do Estado, muitas Organizações Não Governamentais (ONGs) e associações independentes de proteção aos animais assumem esse papel e promovem castrações solidárias de baixo custo. Além da esterilização, eles cuidam de outro problema: o resgate de animais abandonados e o tratamento dos que estão doentes e feridos, situação que também não comove a administração pública, lota abrigos e leva nas alturas as dívidas de quem se compromete a salvar uma ou várias vidas.
Em média, a castração de um animal nesses projetos custa R$100. O valor depende do tamanho e peso do animal. De acordo com a presidente do Grupo Miau Au Au, Camila Amorim, os procedimentos oferecidos pelo grupo são agendados e realizados por um veterinário em uma clínica parceria da instituição com toda a estrutura adequada, anestesia e os cuidados necessários. “Os interessados entram em contato por e-mail, mandam os dados do animal e realiza o depósito. Depois, encaminhamos uma ficha de inscrição e marcamos a cirurgia, que é precedida de uma avaliação para saber se o animal está bem de saúde”, explicou.
Alguns protetores reclamam da intensa fiscalização e de aplicações de multas, na visão deles injustas, pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-GO) nas clínicas parcerias dos grupos e que realizam esse procedimento por um valor abaixo do mercado. Para o diretor-geral da Associação Pela Redução Populacional e Contra o Abandono de Animais (Arpa Brasil), Alexander Noronha, é uma tentativa de acabar com o trabalho social das ONGs. “Eu já solicitei todos os autos de infração do ano passado aplicados pelo conselho para verificar se a fiscalização acontece na mesma proporção em todo o Estado”, disse.
Em nota, o CRMV-GO se disse preocupado com o bem estar animal e que por isso realiza, em conjunto com a Vigilância Sanitária, fiscalizações periódicas em todas as clínicas. O Conselho ressaltou também não ser contra a castração solidária, desde que todos os critérios técnicos sejam cumpridos.
A jornalista Maria José Rodrigues já realizou o procedimento solidário em quatro de seus gatos resgatados das ruas de Goiânia e nunca detectou problemas. “Essa ação é uma forma de nos auxiliar a ajudar esses bichos, já que não temos respaldo nenhum do conselho ou do governo. Quem não tem condições de pagar R$400 vai fazer o que quando o animal procriar? Jogar a ninhada na rua e alimentar ainda mais o problema da superpopulação?”, questionou.
Segunda chance
Outro problema também acolhido pelos grupos protetores é do elevado número de animais feridos. Eles aparecem com fome e sede, atropelados, mutilados, tomados por bichos, com os olhos furados, doentes ou quase mortos, mas ainda resistem à indiferença humana e clamam por uma alma caridosa. São centenas os pedidos que chegam até as ONGs, que, com ajuda de voluntários, formam uma corrente do bem nas redes sociais e possibilitam uma segunda chance para esses bichos.
Foi esse o caso da cadela Vitória, que ganhou esse nome por lutar pela vida. Ela estava a um passo da morte em um dia de sol forte na frente de uma igreja em Senador Canedo. Aparentemente desnutrida e com uma ferida no rosto, ela foi ignorada por cerca de dois dias até que uma foto foi parar nas redes sociais. O olhar da cadelinha, única forma de clamar por socorro, comoveu vários internautas.
Vitória no dia do resgate (Foto: reprodução/Facebook)
Vitória no dia do resgate (Foto: reprodução/Facebook)
Morgana Sioramonte, fundadora da Associação Protetores de Animais Gyn, foi até o local e a resgatou no dia 31 de março deste ano. A cadela, de aproximadamente oito anos, pesava oito quilos e não se mantinha de pé quando foi recolhida. “Vitória foi diagnosticada com anemia, piometra, doença do carrapato, além de um tumor no baço, que foi descoberto durante uma cirurgia para reconstrução do rosto, já que havia uma ferida enorme. Não sabemos se o olho foi arrancado ou se foi um acidente. Ela estava em choque e totalmente debilitada”, relatou Morgana.
Vitória foi internada e apenas os primeiros 14 dias de tratamento resultaram em uma conta de R$4.080 na clínica. Sem ajuda de qualquer órgão público, Morgana deu início a uma campanha nas redes sociais, ferramenta que tem sido aliada dos grupos protetores para sensibilizar e angariar recursos. Uma vaquinha on-line foi criada para auxiliar nessa arrecadação. Eles conseguiram até agora R$2.735. “É aos pouco que vamos conseguindo atingir nossa meta e arcar com as despesas”, diz, esperançosa. Vitória, que continua na clínica, já consegue caminhar, já come comida sólida e parece finalmente respirar um pouco aliviada.
Vitória após a cirurgia (Foto: Morgana Sioramonte)
Outra história parecida foi a de Tofu, como é chamado pela sua protetora. Ele foi atropelado e encontrado com as patas traseiras em carne viva, já que precisava se arrastar para se locomover. “Pela gravidade dos ferimentos, ele já estava naquela situação havia muito tempo”, disse Ivonete Vieira. Mesmo com vários outros animais em casa, Ivonete resgatou o bonitão e levou para uma clínica. Não foi possível reverter a situação das patas, pois os ossos já estavam calcificados de forma errada, mas isso não o impediu de ser feliz e correr por aí.
(Foto: Ivonete Vieira)
“Ele ganhou uma cadeirinha de cano PVC e depois uma de ferro. Quando ele se adaptou à cadeirinha e sentiu confiança, Tofu não parou mais de correr e brincar. A deficiência não o impediu de viver bem e hoje olho pra ele e sinto um alívio por ter dado uma nova chance a um animal tão indefeso”, relatou Ivone.
(Foto: Ivonete Vieira)
Ela abriga em casa 28 cães, todos com algum tipo de deficiência e que precisam de cuidados especiais. Mesmo com uma hérnia de disco, ela se desdobra para manter o bem estar de cada vida que ela resgata. “É difícil, mas eu amo o que eu faço. É uma felicidade indescritível ver como eles são agradecidos a nós, que somos os únicos interessados em salvar a vida deles”, contou.
São tantos casos que poderiam ser agrupadas em um livro. Muitos se recuperam e, mesmo com sequelas, vivem normalmente. Outros resistem por um tempo, mas logo se despedem de quem os ignorou e de quem lutou até o último minuto. Zumbi, um gato, teve a sorte de viver os dois últimos anos de sua vida cercado de amor.
Foi resgatado com FeLV(Vírus da Leucemia Felina) e o FIV (Vírus da Imunodeficiência Felina) - ambos sem cura -,com sarna, graves infecções na boca, poucos dentes e pesando pouco mais de três quilos. Ele foi tratado e suportou por dois anos, até ter o fígado e o rim tomados por tumores, além de nódulos no pulmão. O pequeno não resistiu. “Graças a ele eu pude lidar com a beleza e força de um animal selvagem e a doçura e pureza de um coração rendido. Eu prometi que ele não ia mais sofrer e fiz tudo que pude”, relatou a protetora Marcela Arantes em uma publicação no Facebook.
(Foto: reprodução/Facebook Marcela Arantes)
Zoonoses
Casos como o de Vitória, Tofu e zumbi são comumente relatados nas inúmeras páginas de ajuda animal no Facebook, mas esse problema também passa despercebido pelo poder público. De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Goiás (Secima), a responsabilidade de oferecer atendimento médico-veterinário a animais vítimas de atropelamento, maus-tratos ou em estado de vulnerabilidade é das prefeituras, por meio dos Centros de Controle de Zoonoses (CCZ), mas não é isso que acontece na prática.
Segundo a veterinária Cynthia Lavigne, a administração pública trata da saúde animal apenas quando interfere na saúde humana. “Os centros atuam apenas no controle das doenças que podem ser transmitidas para os seres humanos, como a raiva por exemplo. Em casos de doenças incuráveis, esses espaços são habilitados a realizarem a eutanásia, como determina a Lei Feliciano”, explica.
A equipe do Jornal A Redação visitou o CCZ de Goiânia e um funcionário que preferiu não se identificar afirmou que não há medicamentos para o tratamento dos animais e que a função do espaço é recolher os bichos com doenças incuráveis e encaminhá-los à eutanásia.
No dia da visita do AR, uma cadela da raça Pit Bull de cerca de 11 tomada por sarna estava em uma das baias. Ela havia sido levada pelo próprio dono, que garantiu não ter condições financeiras de medicá-la. O remédio para esse tratamento varia entre R$30 e R$50. “Ela vai permanecer aqui por uma semana. Se o dono não vier buscá-la ou conseguir ajuda para o tratamento ela provavelmente será morta”, disse. A reportagem ligou no CCZ após uma semana e os funcionários não souberam informar o paradeiro do animal.
Os animais sadios que chegam até o CCZ são colocados para adoção, mas não há nenhuma divulgação desse trabalho. Os interessados devem ligar no local e pedir informações sobre a presença de animais disponíveis. É feita uma triagem antes de qualquer adoção, também segundo informações do funcionário.
Animais para adoção no Centro de Zoonoses de Goiânia (Foto: Kamylla Rodrigues/A Redação)
Prefeitura
A assessoria de comunicação da Agência Municipal do Meio Ambiente de Goiânia (Amma) informou que a pasta está discutindo a criação do ‘Plano de Bem Estar Animal’, que vai atender a população de animais domésticos da Capital. O projeto, que ainda é embrionário, está sendo moldado e estudado, e por isso não tem especificações. A assessoria informou ainda que não há um prazo para que a proposta comece a ser implementada.
Hospital Público
Ainda tramita na câmara da Capital, o projeto de criação do Hospital Público para Animais, que por exigir mais esforço e muito mais dinheiro, acabou sendo arquivado em 2014. Ainda não há uma data nem expectativa para desarquivar o projeto, que pode ser uma esperança para muitos animais que sofrem por todos os cantos do Estado. “Sonhamos com o dia em que esse assunto faça parte das diretrizes de governo. É quase uma utopia, mas não custa sonhar”, diz a estudante de medicina veterinária Ana Cláudia Pereira, que também faz parte de um grupo protetor de Goiânia.
Ela ainda faz um apelo. “Nenhum de nós gostaria de passar pela situação de abandono que muitos desses animais passam nas ruas das nossas cidades, mas eu imploro, não maltrate quem já sofre. Se atropelar algum animal comunique um grupo protetor. Não seja conivente com a tortura e pense se você gostaria de passar pela mesma situação”, finaliza Ana Cláudia.
Essa matéria é nada mais nada menos do que uma estratégia de marketing desse rapaz da ONG, que é pré-candidato a vereador. Que vergonha, hein, jornal! Só falta falar o nome da ONG dele, endereço e telefone de contato. Isso é jornalismo?