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Cotas universitárias

Pesquisa da UFG mostra pouca diferença em notas de cotistas e não-cotistas

Médias globais de 2010 se diferenciam em 0,06 | 25.08.12 - 11:37 Pesquisa da UFG mostra pouca diferença em notas de cotistas e não-cotistas Sandramara Chaves, pró-reitora de Graduação da UFG, salienta paridade de notas entre alunos (foto: Carlos Siqueira/Ascom UFG)

Nádia Junqueira

Desde que a Universidade Federal de Goiás (UFG) adotou a política de cotas, em 2009, pesquisas e análises são desenvolvidas para acompanhar o desempenho de alunos que ingressaram pelo sistema. De acordo com a pró-reitora de Graduação, Sandramara Chaves, a média global dos alunos cotistas em 2010 foi de 6,05; enquanto a dos não-cotistas foi de 6,11: uma diferença de 0,06 pontos. Menor que em 2009, quando a média global dos cotistas registrada foi de 6,46 enquanto que a de alunos do regime universal; 6,55 - diferença de 0,11 pontos. Os números de 2011 ainda não foram apresentados.

Além do critério de notas, pesquisas realizadas pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicologia, Educação e Cultura da Faculdade de Educação, ainda em andamento, apontam para a pouca diferença no desenvolvimento dos alunos dentro da universidade, sejam eles cotistas ou não. A diferenciação entre a qualidade do ensino recebido na rede pública ou privada parece se nivelar, quando tais alunos são colocados dentro da mesma sala de aula. O núcleo acompanha, desde 2009, cerca de 230 alunos, sendo 15 a 20 selecionados como amostragem, com quem realizam pesquisa qualitativa por meio de  entrevistas.

As professoras Gyna Guimarães e Edna Mendonça, em entrevista ao jornal A Redação, comentaram algumas percepções que tiveram durante a pesquisa, apesar dela ter prazo de conclusão somente em 2015. Inicialmente, notaram que durante o primeiro ano na universidade, alunos cotistas costumam apresentam certas dificuldades, principalmente em disciplinas que tradicionalmente apresentam mais desafios. No entanto, à medida que os estudos avançam, as dificuldades são dirimidas. “Nós vemos nesses alunos uma grande vontade de correr atrás e uma maior facilidade de dialogar com o professor”, afirma Edna.

As professoras comentam que as experiências em universidades como UnB e UERJ, que adotaram as cotas há mais anos, também mostram que o desempenho não se distingue entre cotistas e não-cotistas. São nos cursos mais concorridos, por outro lado, em que há maiores dificuldades. De acordo com Sandramara Chaves, há cursos na UFG em que os alunos que se enquadram no sistema nem mesmo precisariam de cotas, sendo admitidos pelas próprias notas obtidas no vestibular. E outros em que há alunos que passam pela reserva de vagas e também sem as cotas.

As professoras comentam, ainda, que em sua pesquisa têm percebido excelentes alunos. “A concorrência entre eles no vestibular ainda é muito grande”, comenta a professora Gyna Guimarães. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios divulgada em 2010 mostrou que 85% dos estudantes do ensino fundamental e médio são de escolas públicas, o que justifica essa concorrência. Mesmo dentro da universidade, a professora Edna conta que uma orientanda não conseguiu ser bolsista pesquisadora pelo Programa de Bolsa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) oferecido aos cotistas, mas conseguiu pelo sistema universal.

As pesquisadoras dizem que, até então, não percebem preconceito na relação entre os alunos admitidos por cotas e aqueles que tiveram acesso pelo sistema universal. “Não há nenhuma reclamação, até então”, conta Gyna. A Pró-Reitora Sandramara Chaves também afirma que, institucionalmente, nunca houve reclamações ou denúncias.  

Participação diferenciada 
Outra percepção notada na pesquisa, relatada pelas professoras Edna e Gyna, é de que alunos cotistas têm ocupado espaços políticos e culturais da universidade, muitas vezes, mais do que alunos não-cotistas.

É o caso de André Luiz, 18 anos, que está estudando Direito na UFG graças à política de cotas e integra o Diretório Central da UFG. Ele foi um dos organizadores da manifestação pró-cotas da última quinta-feira.  André estudou no Colégio Militar e afirma que não sentiu dificuldades para acompanhar a turma e suas notas são análogas a de não-cotistas. Para as professoras, as próprias dificuldades desses estudantes fazem com que eles se apropriem dos espaços políticos. Por exemplo, a demanda por apoio à permanência, como por vagas em casa de estudante e auxílio na compra de materiais.

A ocupação por espaços culturais e políticos oferecidos pela universidade e a capacidade de diálogo com professores, para professora Edna, indicam que a escola pública não é, de todo, ruim. O professor da PUC Goiás, doutor em Educação, Aldimar Jacinto, critica a forma como o conhecimento é passado em algumas escolas privadas, que tem como única preocupação a inserção na universidade. “Esse educação oferecida é meramente técnica, individualista e mercadológica. Não há relação, necessariamente, com desenvolvimento social e humano”, pontua. Portanto, para o professor, deve ser discutido o ensino tanto das escolas públicas, como das privadas.

O estudante do 3º ano do WR, Heitor Crispim, apesar das críticas às cotas (leia aqui), também acredita que esse modelo de educação do Brasil deve ser questionado. “Só decoreba”, qualifica. As professoras Edna e Gyna também se preocupam com a forma como o conhecimento é trabalhado no Ensino Médio. “O conhecimento é trabalhado de forma desarticulada, baseado na memorização”, critica Edna.

Enem segue como funil 
Para a professora, apesar do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) se apresentar como uma alternativa ao vestibular, ele não se diferencia propriamente, por não avaliar como o conhecimento tem sido apropriado no processo de formação. Dessa forma, há quem possa pagar por melhores apropriações e outros não.  Apesar das críticas, a forma de ingresso às universidades de acordo com o novo projeto de lei que institui a reserva de 50% das vagas para escolas públicas, deve continuar a ser o Enem.

No último dia 22 a presidenta Dilma esteve reunida com ministro da Educação, Aloízio Mercadante, que adiantou que quer garantir que a ferramenta para seleção dos estudantes seja o Enem. Para tanto, vetará parte do projeto de lei. O texto aprovado pelos senadores define que a ferramenta para definir quem entra na faculdade seja o Coeficiente de Rendimento, obtido a partir da média aritmética das notas do aluno no Ensino Médio.

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Comentários

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  • 22.10.2012 13:15 Gabriel Rodoval

    É claro que vão falar isso. Se falarem que há uma grande diferença, o MEC vai parar de dar dinheiro para a Universidade.

  • 27.08.2012 01:25 Leeh

    Engraçado, cadê o povo que vem dizer que cotista não consegue acompanhar, que vai baixar o nível do ensino superior?.

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