Yuri Lopes
Goiânia – Desmistificar a ideia de que música clássica e concertos de orquestra são opções culturais para a elite é um dos desafios do maestro paulista Fabio Mechetti, que é diretor artístico e regente titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e será regente do concerto realizado nesta quinta-feira (21/7) pela Orquestra Filarmônica de Goiás, às 20h30, no Centro Cultural Oscar Niemeyer, com entrada gratuita.
Leia mais:
Filarmônica realiza concerto com regência de Fabio Mechetti
Em entrevista ao jornal A Redação, Fabio falou da implantação da filarmônica em Minas Gerais, da evolução dos músicos e da importância de autonomia para desenvolver projetos que levam a orquestra ao povo.
Em Goiânia, Fabio vai comandar o concerto que tem no programa as obras O Corsário, do francês Berlioz, e a Sinfonia n°4, do alemão Johannes Brahms.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista:
Quais elementos são essenciais no comando de uma orquestra filarmônica?
Fabio Mechetti – A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais começou em 2008 comigo e foi criada a partir de uma premissa política. Toda a base da orquestra foi em busca de excelência. Tudo o que desvia desse caminho a gente tenta evitar. Acho que os resultados que a orquestra tem conquistado nestes anos tem mostrado que estamos no caminho certo. O atual governo demonstrou compromisso com a gente ao construir uma sala exclusiva para a Filarmônica, onde agora podemos tanto ensaiar quanto realizar as apresentações.
Fabio Mechetti durante ensaio no CCON com a Filarmônica de Goiás (Foto: Juliana Junqueira)
Desde o início da orquestra até hoje, quais as principais mudanças pelas quais a Filarmônica passou?
Acho que a evolução artística da orquestra é o mais importante. Mas isso sempre foi condicionado à existência de uma sala de concerto própria da orquestra, o que só aconteceu nos últimos dois anos. Antes nós ensaiávamos em um espaço, e fazíamos as apresentações em outro. Outro ponto que destaco é a regularidade da programação, com convidados internacionais, o que tem gerado um aumento de público nos concertos, a maioria com lotação máxima.
Muita gente ainda pensa que concerto de orquestra é uma atração de elite e inacessível ao grande público. O que fazer para mudar esse pensamento?
Primeiramente é usar a imprensa para desmistificar essa ideia. Do ponto de vista de custo, por exemplo, é muito mais barato fazer um concerto do que fazer um jogo de futebol. As pessoas que fazem música normalmente vêm da classe média ou da classe baixa. A classe alta geralmente nem tem o apelo cultural das outras classes. Acho que esse pensamento vem da questão que as pessoas confundem excelência e qualidade com elite. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Você pode ser elitista e não ter excelência nenhuma. Em Minas, a orquestra faz concertos no interior do Estado, nas praças públicas, o que considero ser importante para divulgar música de qualidade. A resposta tem sido muito positiva. Me lembro de um concerto em Tupaciguara, uma cidade com 10 mil habitantes, e tivemos um público de 3 mil. No final, tinha uma fila com centenas de pessoas para cumprimentar os músicos e encontrei um trabalhador rural que chorava sem controle pela emoção ao presenciar o concerto.
Então o senhor acha que a Filarmônica de Minas tem conseguido desmistificar essa ideia?
A gente tem quebrado esta relação entre qualidade e elite e penso que estamos no caminho certo. As pessoas tem entendido que o projeto da orquestra engrandece a todos, não apenas uma elite financeira. A gente tem que ter consciência que isso nunca vai ser popular, mas temos que aumentar o número de pessoas que apreciam, apresentando o conteúdo isso a elas.