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Declieux Crispim
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Declieux Crispim é jornalista, cinéfilo inveterado, apreciador de música de qualidade e tudo o que se relaciona à arte. / declieuxcrispim@hotmail.com

Cine Qua Non

Melodia Infiel

| 15.01.18 - 12:10


 

Goiânia - Alain Resnais, um dos maiores diretores do cinema, revela-se um hábil traquejo para construir sua arte por meio de uma teatralização das relações humanas perpassando por temas que remetem ao tempo e à memória, concatenando as mais distintas expressões artísticas para lograr seu espaço e esboçar uma estética sublime para contar suas histórias e demonstrar toda a sua perspicácia no que tange ao pleno domínio de suas técnicas cinematográficas e uma encenação inesquecível.

Da profusão de sentimentos irrompe um melodrama que versa sobre o amor, a amizade e a traição embalada em uma ode à arte recheada de citações e referênicas em Melodia Infiel (1986). Há um trio de personagens que norteia o andamento da narrativa que se passa em Paris da década de 1920. Pierre (Pierre Arditi) e Romaine (Sabine Azéma) são casados e felizes, mas a presença de um velho amigo de Pierre, o maestro Marcel (André Dussolier), desencadeará uma paixão irrefreável entre este e Romaine. 

Não há como deixar de mencionar a cena em que prenuncia a propensa traição que de fato ocorrerá posteriormente a ela. Romanie seduz o maestro enquanto ela apresenta suas qualidades musicais dedilhando o piano e extraindo uma bela melodia enquanto ele a acompanha com o violino. Este evento será determinante e, a partir dele, é possível inferir imediatamente que a traição se consumará. A elegância formal com que Resnais burila sua obra é de uma força impressionante e corrobora o talento incorrigível deste mestre na consecução de uma obra colossal e de representatividade singular no contexto cinematográfico.

Os amantes enamorados passam a se encontrar às escondidas assiduamente, mesmo quando Pierre se encontra enfermo. Ao passo que a chama da paixão se acentua, Romaine não suporta a ideia de abandonar o marido, e acaba por medicá-lo de modo errôneo dando-se a impressão de que ela almeja a morte de seu marido servindo como uma espécie de passaporte para que possa se jogar aos braços de Marcel. A melodia surge num outro momento crucial em uma deslumbrante sequência de um baile de tango em que Marcel e Romaine dançam e Pierre demonstra-se incomodado o que acende um sinal de alerta.

É estrondoso o trabalho de Resnais na direção e na composição de cada plano, muito bem pensado e elaborado, sendo que é impossível sobreviver incólume à sua veia artística que apresenta um valor inigualável. A cortina vermelha do início remete à ideia do teatro, muito presente na obra do diretor e que delineia bem a divisão da película em atos distintos. Resnais transita entre a memória e o tempo erigindo uma obra que se mescla com estes substantivos para, não somente apresentar a história destes personagens, mas para que nem mesmo o tempo e as vicissitudes da vida sejam capazes de apagar a memória de sua arte.

 


Comentários

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  • 16.01.2018 14:32 Flávia

    Eu não assisti ainda. Mais um filme na minha lista de filmes para assistir!!! Adorei!!! Parabéns!!!

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