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Declieux Crispim
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Declieux Crispim é jornalista, cinéfilo inveterado, apreciador de música de qualidade e tudo o que se relaciona à arte. / declieuxcrispim@hotmail.com

Cine Qua Non

A Rotina Tem Seu Encanto

| 04.12.17 - 09:15 A Rotina Tem Seu Encanto (Foto: Divulgação)
Goiânia - A poesia do cotidiano irrompe por meio de um lirismo sublime no cinema de Yasujiro Ozu. Um dos pontos altos de sua fase final, ou de toda a sua extensa filmografia, pode ser representada por Bom Dia (1959). Sua assinatura está presente de modo impactante nesta película exuberante em cada plano que dá vida ao filme. Partindo de atos triviais da rotina imiscuídos em relações familiares, passando pela transformação da sociedade japonesa, são características preponderantes na consecução da obra de Ozu e se faz presente de modo altivo nesta pérola do diretor nipônico.
 
Ozu alicerça sua narrativa em torno de famílias periféricas durante o período pós-guerra e a invasão da cultura americana que impõe o seu modo de pensar e seduz, sobretudo, as crianças. Quando Isamu (Masahiko Shimazu) e Minoru (Koji Shitara), duas crianças, descobrem o televisor na casa de um dos seus vizinhos após saírem da escola, logo são fisgados por um objeto estranho que materializa o desejo dos meninos. Tão logo a descoberta se transforma numa obsessão. A resistência de seus pais não afeiçoados à modernidade após a negativa de comprar o aparelho às crianças faz com que Isamu e Minoru promovam uma greve de silêncio.
 
Por meio desta atitude a película se envereda para o humor com traços que remontam ao período do cinema silencioso, evocando adjetivos que se mesclam entre Charles Chaplin e Buster Keaton e, por vezes, pode ser um devaneio ou uma falsa impressão, inclusive Jacques Tati ou Pierre Étaix. As crianças da vizinhança deixam de estudar para acompanhar o campeonato de sumô e os olhos seguem vidrados naquela pequena caixa de pandora. Há um claro distanciamento familiar advindo deste objeto nefasto que insiste em vangloriar o individualismo e provocar a dissolução familiar.
 
Em Tudo Que o Céu Permite (1956), de Douglas Sirk, uma das personagens se recusa a receber o televisor como presente estabelecendo uma crítica que dialoga com a obra de Ozu. A misé-en-scene do japonês resplandece encantando a todo público que é presenteado por um momento de extraordinária sensibilidade e magia inerente à beleza que acende uma chama de esperança por meio de uma câmera inconfundível que marca sua assinatura e de toda a singeleza que pulsa nas veias deste inequívoco mestre. Um filme delicioso de se assistir. 
 

Comentários

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  • 04.12.2017 13:58 Flávia

    Que leitura maravilhosa!!! Uma ótima reflexão sobre o que aconteceu no japão e que acontece ainda. Yasujiro Ozu foi um diretor muito importante. Parabéns, Declieux Crispim!

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Declieux Crispim é jornalista, cinéfilo inveterado, apreciador de música de qualidade e tudo o que se relaciona à arte. / declieuxcrispim@hotmail.com

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