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Declieux Crispim
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Declieux Crispim é jornalista, cinéfilo inveterado, apreciador de música de qualidade e tudo o que se relaciona à arte. / declieuxcrispim@hotmail.com

Cine Qua Non

Na Praia à Noite Sozinha

| 09.10.17 - 08:57 Na Praia à Noite Sozinha (Foto: Divulgação)
 
Goiânia - De um encontro entre Eric Rohmer e Woody Allen surge o diretor sul-coreano Sang-soo Hong, mas cujos atributos não se restringem à imitação, visto que há muita verdade em seu cinema, além de seus traços inolvidáveis. Ao contrário de Allen, cuja obra recente oscila entre bons e razoáveis filmes, a de Sang-soo Hong revela-se como uma das mais célebres no que se refere ao cinema contemporâneo. O sul-coreano está entre os grandes expoentes, atualmente, e galga espaço no seleto time composto, dentre outros, por Jean-Claude Brisseau, Clint Eastwood, Kiyoshi Kurosawa e James Gray.
 
Sua obra é, extremamente, prolífica e o esmero entre sua rigidez formal, calcado em um domínio absurdo da misé-en-scene, da utilização de longos planos-sequência e do brilhante uso do zoom, com atos fugazes e prosaicos do cotidiano casa muito bem. Na Praia à Noite Sozinha (2017), um de seus recentes filmes, repete a máxima que embasa sua obra há 21 anos: “um verdadeiro autor faria sempre o mesmo filme”. Este aforisma estabelece uma identidade e uma ponte entre sua arte e as de Allen e Rohmer. Outros elementos que conectam os diretores são os relacionamentos tratados com sutileza, diálogos desconcertantes e uma beleza formidável. 
 
Há dois atos distintos ao longo da projeção. No primeiro, Younghee (Kim Min-hee) está na Alemanha para visitar uma amiga e, provavelmente, fugir dos paparazzi após seu caso com um reconhecido diretor de cinema ser noticiado. Na sacada do apartamento da amiga, elas discutem sobre relacionamentos e sobre as possibilidades ou não do amor à medida que Younghee espera, ansiosamente, o encontro com seu amante e a dúvida imanente sobre a sua aparição permeia seus pensamentos, e a esperança de poder viver de modo que a agrade.
 
No segundo, ela está em uma sala de cinema e seus olhares demonstram um arcabouço de sentimentos que evocam Mário Quintana: “Quem não compreende um olhar, tampouco compreenderá uma longa explicação”. Um simples olhar é capaz de dizer mais do que mil palavras. A partir de um encontro em um bar entre amigos regado a bebidas e a conversas sobre a vida, e, após uns goles a mais, Younghee revela-se sorumbática e deveras sincera, passando a não mensurar seus dizeres que culmina em um tenro beijo em sua amiga em uma delicada cena, o que reflete sua desilusão em relação ao sexo oposto. Tudo imerso em uma ambientação onírica que se confunde com a realidade. Há uma densa verdade no cinema de Sang-soo Hong que emerge em uma pertinente reflexão sobre o teor pessoal de um artista com sua obra e o desejo sagrado de perseguir algo com paixão, o que pode ser evidenciado em seu longa anterior Você e os Seus (2016) em que um dos personagens é um diretor de cinema que afirma que teve sorte, pois realiza aquilo que ama. É possível traçar um paralelo entre o personagem-diretor do referido filme e o próprio Sang-soo Hong. 
 

Comentários

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  • 16.10.2017 21:03 Flávia

    Excelente leitura como sempre, Parabéns, Declieux Crispim!

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Declieux Crispim é jornalista, cinéfilo inveterado, apreciador de música de qualidade e tudo o que se relaciona à arte. / declieuxcrispim@hotmail.com

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