Entre os mais influentes da web em Goiás pelo 12º ano seguido. Confira nossos prêmios.

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351

Sobre o Colunista

Declieux Crispim
Declieux Crispim

Declieux Crispim é jornalista, cinéfilo inveterado, apreciador de música de qualidade e tudo o que se relaciona à arte. / declieuxcrispim@hotmail.com

Cine Qua Non

Vício Maldito

| 12.06.17 - 08:58 Vício Maldito (Foto: divulgação)
Goiânia - Blake Edwards é amplamente conhecido pelo célebre Bonequinha de Luxo (1961), eternizado pela diva Audrey Hepburn, ou suas comédias absurdamente geniais como A Pantera Cor-de-Rosa (1963), A Corrida do Século (1965), ou ainda Um Convidado Bem Trapalhão (1968). Todavia, esta atmosfera que permeia seus filmes mais amenos e divertidos é extrapolada, avassaladoramente, em Vício Maldito (1962), um de seus grandes trabalhos. Nele, a trajetória de Joe Clay, interpretado com maestria por Jack Lemmon, é dissecada em sua jornada rumo a um caminho inglório devido ao alcoolismo, um problema que assola as mais diversas camadas sociais.
 
Joe é um publicitário que se envolve emocionalmente por Kirsten (Lee Remick), uma colega de trabalho. Deste romance, surge o matrimônio. Ela se demonstra, a princípio, relutante em relação à bebida, mas acaba se levando por influência do seu marido. 17 anos antes do filme de Blake Edwards, o mestre Billy Wilder retratou de modo extraordinário a degradação física e moral de um escritor, mas creio que Vício Maldito seja, possivelmente, a melhor película existente a abordar o alcoolismo.
 
O retrato em branco e preto do filme alumia o ecrã de uma maneira pujante que hipnotiza o expectador e o transporta para experenciar e sentir o sofrimento à flor da pele. Não há soluções fáceis e tampouco uma lição de moral como ocorre com frequência em outros longas, mas sim uma representação da vida tal como ela é. Após o casamento, o índice de ingestão alcóolica cresce em ritmo contumaz prejudicando a vida profissional de Joe. Antes, completamente abstêmia, Kirsten mergulha no vício e a situação financeira de ambos se compromete. Repreendidos pelo pai da moça, a filha do casal se vê desamparada. 
 
Somente através da bebida é que Joe consegue aplacar sua baixa estima e seu nervosismo, mas, quando ele percebe que foi tragado pela bebida, tenta desesperadamente ressurgir das cinzas que queimam para vencer o vício e soerguer-se com a dignidade perdida ao longo de sua jornada ao coração das trevas. Sua esposa, ao contrário, parece em um caminho sem volta e profere algumas frases marcantes que expõem suas fragilidades emocionais: “Eu quero que as coisas pareçam mais bonitas do que são.”, “Não suporto o aspecto sujo das coisas.”, ou ainda “Eu preciso ser amada. Sinto-me tão só sem amor que não posso suportar.” 
 
Há cenas emblemáticas ao longo da projeção, dentre elas o instante em que Joe está bêbado e procura desesperadamente em uma estufa uma garrafa de bebida escondida em um dos vasos de flores, destruindo um por um até encontrá-la, ou ainda quando é preso em uma camisa-de-força. Blake Edwards esboça com uma força impressionante a complexidade intrínseca aos personagens, a luta contínua para permanecer limpo e a consternação de uma família nas profundezas de um mar sem fim. Infelizmente, a realidade não poupa todos os seres.
 

Comentários

Clique aqui para comentar
Nome: E-mail: Mensagem:
  • 16.06.2017 10:49 Dijiane Amaral

    Texto interessante! Muito bem versátil.

  • 12.06.2017 15:55 Jackelline de Castro

    Adorei o texto e sinceramente fiquei com muita vontade de assistir. Blake Edwards é essencial!

  • 12.06.2017 09:45 Daniela Carelli

    Blake Edwards foi um grande diretor! Fez grandes filmes! Leitura maravilhosa toda segunda! Excelente como sempre! Parabéns, Declieux Crispim!

  • 12.06.2017 09:45 marlon giorgio

    Grande abordagem da dipsomania, a meu ver mais impactante e bela que outras anteriores do tema ("Farrapo Humano", "Eu Chorarei Amanhã"), hoje algo datadas. Em princípio, é surpreendente por juntar dois nomes famosos no terreno da comédia - o diretor Blake Edwards e o ator Jack Lemmon - irmanados em aprofundar com realismo e sinceridade incomum o sério problema. O filme, com críticas, inclusive, à sociedade norte-americana, caminha emocionando com o crescendo da dependência de Lemmon, até um final melancólico com uma inversão de papéis - Lemmon curado do vício após uma memorável cena de "delirium tremens" e sua doce esposa (Lee Remick, também excelente) irremediavelmente vítima do álcool. Para mim, o melhor Blake Edwards fora de sua zona de conforto.

  • 12.06.2017 09:39 Flávia Bosso

    Que texto maravilhoso! Pude visualizar as cenas, Blake Edwards foi um grande diretor. Adorei! Parabéns, Declieux Crispim!

Sobre o Colunista

Declieux Crispim
Declieux Crispim

Declieux Crispim é jornalista, cinéfilo inveterado, apreciador de música de qualidade e tudo o que se relaciona à arte. / declieuxcrispim@hotmail.com

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351
Ver todas