Goiânia - É inerente ao melodrama por excelência uma infatigável faculdade de provocar a emoção, permitir a quem assiste a ele debulhar-se em lágrimas em relação à trama traduzida ao ecrã pelo realizador. Não há truques ou artifícios que tentam ludibriar o expectador para forçar emoções frágeis que não se sustentam, mas sim uma aposta na discrição dos sentimentos para que eles cheguem diretamente ao público, sem firulas, e que são capazes de arrebatar e extrair o choro até mesmo de quem é incapaz de demonstrar quaisquer sensações. Quando se pensa neste gênero, o nome de Douglas Sirk invariavelmente é rememorado. Só Resta uma Lágrima (1946), dirigido por Mitchell Leisen, é um grande exemplar do gênero e, infelizmente, subestimado ou pouco visto.
A trama escrita por Charles Brackett, escritor americano, roteirista e produtor de cinema conhecido por sua colaboração com Billy Wilder, eclode em um turbilhão de sensações, envolvendo acima de tudo uma força propulsora que perpetua as relações humanas: o amor. Por meio de uma narração em flashback, Josephine “Jody” Norris (Olivia de Havilland) narra sua vida. Durante o ano de 1918, antes do fim da primeira guerra mundial, em sua juventude, a personagem em Piersen Falls, sua cidade natal, rejeita duas propostas de casamento e, quando ela conhece Bart Cosgrove (John Lund), envolve-se de corpo e alma. Desta súbita paixão, surge uma gravidez. Ele retorna à guerra e é morto em combate. O médico de Jody a convence a abortar a criança, mas no instante em que ela recebe a notícia do falecimento de seu amado, prontamente, decide, em uma cena belíssima, ter a criança para preservar uma fagulha do seu amor.
Por pertencer a uma era consolidada pelo conservadorismo e para evitar um escândalo, ela decide ter o bebê secretamente. É arquitetado um plano para que Jody possa adotá-lo, posteriormente, alegando que se trata de um órfão de guerra. Os planos caem por água abaixo quando a criança é entregue à Corinne Piersen (Mary Anderson), que se casara com Alex (Phillip Terry) e cujo filho acabara de falecer. Ida Lupino, grande diretora, três anos após o lançamento da obra de Mitchell Leisen, realizou Not Wanted (1949), uma película que dialoga com o longa protagonizado pela estupenda Olivia de Havilland, agraciada pelo Oscar, visto que, no debute de Ida Lupino, uma garçonete é expulsa de casa por ter uma criança fora do casamento sendo obrigada a doar seu filho recém-nascido para uma instituição de caridade.
A transitoriedade do crescimento provoca sentimentos conflitantes e vai da ingenuidade de sua juventude ao comportamento impregnado por um rancor influenciado por sofrimentos vividos ao longo de sua vida. Jody passa a visitar Gregory, seu filho, a quem o apelida de Griggsy. Após a morte de seu pai, ela vende a farmácia e pede à Corinne que a coloque como babá do garoto, mas ela apresenta uma postura irredutível diante da proposta, uma vez que Alex é apaixonado por Jody. Após a negativa, Jody apresenta a certidão de nascimento e confessa ser a mãe da criança. Ela se muda para Nova York e constrói um negócio muito rentável de cosméticos. Quando se depara com a dificuldade financeira do casal, Jody chantageia Corinne e Alex oferecendo-lhes uma boa quantia financeira.
Griggsy muda-se para a casa de Jody, mas não se adapta e sente a falta de seus pais adotivos. Em um dos momentos mais sublimes e tocantes da película, ela conta ao garoto que ele foi adotado, e ele retruca de bate-pronto que esta atitude reflete uma prova de amor. Ela decide devolvê-lo, viaja a Londres e se debruça incessantemente no trabalho para aplacar sua terrível dor. Há um salto no tempo e a trama se instaura no período da segunda guerra mundial, e é neste período que ela encontra o filho, que se tornou tenente e é piloto da 8ª Força Aérea e se encontrava de licença em Londres para se casar. É neste instante em que há uma reviravolta que culmina em um dos momentos mais altivos do cinema.