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Othaniel Alcântara
Othaniel Alcântara

Othaniel Alcântara é professor de Música da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador integrado ao CESEM (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical), vinculado à Universidade Nova de Lisboa. othaniel.alcantara@gmail.com / othaniel.alcantara@gmail.com

Música clássica

Judeus na orquestra nazista

| 18.02.16 - 18:38
Goiânia - A Orquestra Filarmônica de Berlim (OFB) sobreviveu aproximadamente cinco décadas como uma cooperativa (a Gmbh), tendo seus músicos como acionistas. Modelo de gestão que, se por um lado permitiu a desejada autonomia, por outro trouxe constantes crises financeiras. Já no início da década de 1930, a Gmbh encontrava-se praticamente falida.

Em vista disso, seus acionistas, liderados pelo maestro titular Gustav Heinrich Ernest Martin Wilhelm Furtwängler (1886-1954) escolheram provavelmente o único caminho capaz de garantir sua sobrevivência naquele momento: aliar-se ao Governo do Terceiro Reich. Assim, a orquestra se transformou em um dos principais instrumentos de divulgação da grandeza da cultura alemã para o mundo. Projeto idealizado e supervisionado por Joseph Paul Goebbels (1897-1945), ministro da propaganda nazista, empossado em março de 1933. Falei sobre as primeiras décadas de existência da OFB nas colunas:

50 músicos na pista de patinação 
A Orquestra do Terceiro Reich 

Após esse “casamento”, oficialmente realizado em janeiro de 1934, e, no contexto do ultranacionalismo xenófobo, qual destino tiveram os músicos (instrumentistas e maestros) judeus da Filarmônica? 
 
Os maestros judeus
Em 1933, ainda como instituição privada, a Filarmônica de Berlim apresentava-se em 3 séries de concertos por assinatura, todas organizadas pela Wolff & Sachs, agência fundada pelo empresário judeu Hermann Wolff e responsável pela gestão financeira da Cooperativa, desde 1886. Os concertos da principal série, a Philharmonische Konzerte, eram regidos, desde 1922, pelo alemão Furtwängler, enquanto as duas outras de menor porte, naquele ano, estavam sob a responsabilidade dos maestros judeus Bruno Walter (1876-1962) e Otto Klemperer (1885-1973).
 

Foto de 1929. Da esquerda para a direita: Bruno Walter (1876 - 1962), Arturo Toscanini (1867 - 1957), Erich Kleiber (1890 - 1956), Otto Klemperer (1885 - 1973) e Wilhelm Furtwängler (1886-1954).
 

Contudo, os dois maestros judeus não permaneceriam em Berlim até o final de 1933, quando o pacto entre a OFB e o Reich foi selado. Bem antes, o clima já se encontrava hostil para os judeus. Contextualizando, em 27 de fevereiro de 1933, exatamente um mês após a nomeação de Adolf Hitler (1889-1945) para o cargo de Chanceler da Alemanha, o prédio do Parlamento alemão (Reichstag) foi incendiado. Os dirigentes nazistas, convenientemente, culparam seus inimigos comunistas. No dia seguinte, persuadido por Hitler, o então presidente Paul Von Hindenburg (1847-1934) assinou o “Decreto do Presidente do Reich para a proteção do povo e do Estado”, suspendendo, dentre outros, a maioria dos direitos humanos previstos pela constituição de 1919. Em resumo, a Schutzstaffel (SS) ficava livre para agir com violência contra todos os opositores do regime. 
 
Voltando aos maestros judeus, no mês de março, Bruno Walter receberia algumas ameaças veladas antes de um de seus concertos. Segundo Misha Aster (1978), autor de Das Reichsorchester, o ministro Goebbels teria sugerido que “certos grupos onipresentes na nova Alemanha poderiam não ver com bons olhos a presença do maestro no pódio berlinense”. Diante disso, a Wolf & Sachs cancelou a apresentação da OFB. O caso foi comentado por um dos líderes nazistas no jornal do Partido Nacional-Socialista alemão, publicado em 5 de abril: “(...) jamais proibimos esse concerto ou impedimos o Sr. Bruno Walter de regê-lo. É verdade que não foi possível garantir a segurança do evento (...)”. No final, o concerto foi realizado sob a regência do maestro e compositor alemão Richard Strauss (1864-1949). Para Misha Aster, os motivos pelos quais Strauss veio a substituir Walter nesse concerto é algo tão obscuro quanto historicamente repisado. Na sequência desse episódio, o regente judeu abandonou seu cargo em Berlim. Essa prática ardilosa se repetiria com seu companheiro Otto Klemperer.
 
No mesmo mês, Wilhelm Furtwängler, o reverenciado maestro titular da Filarmônica de Berlim, emitiria sua opinião sobre o assunto, através de uma carta ao próprio ministro Goebbels: “(...) Arte e artistas existem para criar amor, não ódio; para unir, não dividir. Em última análise, existe apenas uma linha divisória que eu reconheço: aquela entre a boa e a má arte (...)”
 
Logo em seguida, Goebbels, manifestou-se publicamente sobre o futuro dos artistas judeus nas atividades culturais da Alemanha e, mais precisamente, sobre a OFB, de acordo com o seu biógrafo, Peter Longerich, numa troca de correspondências via imprensa, o ministro da propaganda destacou que não concordava com o maestro. Em resposta, teria dito que podia existir apenas “(...) uma arte que no fim cria a sua própria qualidade a partir da nacionalidade plena [...] e tem significado próprio para o povo para a qual é criada”.
 
Ao que tudo indica as discordâncias entre Furtwängler e Goebbels não atrapalharam a aproximação da OFB com o Ministério da Propaganda do Reich, detalhado na coluna “A Orquestra do Terceiro Reich”
 
Os instrumentistas judeus
Ao venderem suas ações ao Reich, em 15 de janeiro de 1934, os músicos da Filarmônica de Berlim (OFB) transformaram-se em servidores públicos e, consequentemente, sujeitos às leis raciais impostas pelo Partido Nacional-Socialista. Àquela altura, a orquestra contava com 4 músicos judeus (Szymon Goldberg, Spalla; Gilbert Back, Violino I; Nikolai Graudan, Cello e Joseph Schuster, Cello), além de outros 2 de descendência parcialmente judia (Hans Bottermund, Cello e Bruno Stenzel, Violino II) em suas fileiras. 
 
Como foi mencionado anteriormente, o maestro Furtwängler era considerado o principal personagem desse pacto “fáustico”. E, desde então, é tratado como uma figura polêmica, principalmente quanto à sua relação com Joseph Goebbels e Adolf Hitler. Na final da coluna '50 músicos na pista de patinação', que fala sobre as primeiras quatro décadas de existência da OFB, deixei questionamentos sobre esse assunto: O maestro alemão teria usado seu prestígio para ajudar músicos judeus, ou teria feito um pacto com os líderes nazistas, como sugeriu a imprensa alemã depois da guerra?
 
Na verdade, nessa relação existiam interesses mútuos. Furtwängler era uma celebridade na Alemanha, de acordo com o musicólogo Misha Aster (1978), um ícone reverenciado por músicos e pelo público, conhecido mesmo fora do meio artístico. Para o competente e presunçoso maestro, em primeiro plano estavam suas ambições pessoais e profissionais. Para tanto, não abriria mão de sua autonomia artística, o que significava não apenas a permanência de todos os músicos judeus na Filarmônica, mas também abarcava outras “cláusulas”. Entre elas pode-se mencionar, a não interferência política na escolha dos programas e a continuidade da contratação de solistas de alto nível e convidados para os concertos da orquestra que, à época, incluía vários judeus, como por exemplo, os lendários violinistas Bronislaw Huberman (1882-1947) e Fritz Kreisler (1875-1962). Nas palavras de Misha Aster, “De fato, o regente não rejeitava a política antissemita, per se, mas a intromissão política em seu domínio”.
 
Para Joseph Goebbels, tratava-se de utilizar a melhor orquestra alemã como uma das armas no processo de “unificação” ideológica do país, patrocinada pelo Reich. Naturalmente, o ministro, considerando o prestígio do maestro, optou por adotar, inicialmente, uma atitude mais conciliatória em relação aos instrumentistas judeus. Assim, concessões foram feitas a Furtwängler.
 
Obviamente que a lua de mel não durou muito tempo. Ainda em 1934, o Ministério da Propaganda tentou limitar contratualmente a autonomia de Furtwängler. Entre outras providências, proibiu a contratação de solistas “não arianos”, o que representou uma provocação para o maestro. Como era de se esperar, uma insatisfação mútua cresceu ao longo daquele ano. Tudo leva a crer que, durante o pouco tempo de boa relação com os nazistas, Furtwängler fez o melhor que pôde para ajudar seus músicos “não arianos”. Todavia, o ambiente político inóspito logo começou a fazer as primeiras “vítimas”. Solistas judeus não mais aceitavam os convites do maestro titular. E, quanto aos músicos permanentes, já no final da temporada de 1933-1934, dois deles deixaram a Alemanha: o spalla Szymon Goldberg e o violoncelista Joseph Schuster. Em 1935, foi a vez do violoncelista Nikolai Graudan e do violinista Gilbert Back abandonarem o barco. Todos foram acolhidos em instituições inglesas ou americanas.
 
Abaixo, o primeiro movimento da Sonata “Primavera” de L. V. Beethoven interpretado pelo violinista Szymon Goldberg (Spalla da OFB em 1933) e pela pianista Lili Krauss. Gravação: 1936.
 

A renúncia de Furtwängler
A relação entre Furtwängler e Goebbels chegou ao fim com o “Caso Hindemith”. Explico: Como sabemos, a tentativa de criação da “cultura nazista” foi alicerçada também na “superioridade da raça ariana”. No campo musical, prestigiados compositores até então, como o checo-austríaco Gustav Mahler (1860-1911), o alemão Felix Mendelssohn (1809-1847) e o austríaco Arnold Schoenberg (1874-1951), tornaram-se alvos de discriminação racial pelos líderes do regime. A falta de definição de um estilo musical nazista foi utilizada como critério na campanha de rebaixamento desses artistas, visto que algumas de suas peculiaridades passaram a ser consideradas indesejáveis nas composições. Foi, por exemplo, o caso da técnica dodecafônica, criada por Schoenberg. 
 
No caso específico do compositor alemão Paul Hindemith (1895-1963), um colaborador de longas datas da Filarmônica de Berlim, sua esposa, Johanna Gertrud Rottenberg, era filha de judeu. Para piorar, desde os tempos pré-nazistas, aquele não escondia sua oposição ao fascismo, embora houvesse decidido ficar na Alemanha. No início do Terceiro Reich, conforme o historiador Richard J. Evans, autor da trilogia O Terceiro Reich no Poder, Hindemith esteve ocupado, escrevendo o libreto para sua ópera Matias, o pintor. Uma sinfonia retirada dessa obra chegou a ser estreada pela Filarmônica de Berlim, em 12 de março de 1934. 
 
Todavia, algum tempo depois, as obras de Hindemith foram banidas do repertório alemão. Em resposta, o maestro Furtwängler publicou uma sólida defesa do compositor em um jornal, em 25 de novembro. Para Richard J. Evans, a repercussão do caso amplificou-se quando, no mesmo dia, dirigindo a OFB, recebeu demonstrações de apoio da plateia. Dias depois, Goebbels, que estava presente naquela ocasião, forçou o maestro a renunciar a todos os seus cargos: Filarmônica de Berlim, Ópera Estatal de Berlim e o da Câmara de Música do Reich. Maestro e compositor seguiram, então, para a Suíça. Logo depois, Hindemith transferiu-se para os Estados Unidos. Furtwängler, entretanto, voltaria a trabalhar na Filarmônica de Berlim a partir de abril de 1935. O jornal carioca “Correio da Manhã” noticiou sua demissão na edição de 05 de dezembro de 1934:



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As saídas dos maestros Bruno Walter, Otto Klemperer e Wilhelm Furtwängler, entre março e dezembro de 1933, facilitaram o caminho de outros talentosos e competentes regentes como, por exemplo, o austríaco Karl Böhm (1894-1981), o polonês Carl Schuricht (1880-1967), o alemão Eugen Jochum (1902-1987), além do também austríaco Hebert Von Karajan (1908-1989). Este, grande desafeto de Furtwängler, se tornaria o futuro comandante da OFB. Mas essa é outra história.
 
Finalizando, o antissemitismo não só afetou os músicos ou a escolha do repertório da orquestra, mas alterou também sua agenda de compromissos e a composição de seu público. Na próxima coluna, falarei um pouco sobre a participação da OFB em eventos políticos patrocinados pelo Reich. Curiosamente, um deles, contou com a participação de um conhecido compositor e maestro brasileiro.
 
Mais sobre a Orquestra Filarmônica de Berlim:

Documentário “The Reichsorchester” de Enrique Sánchez Lansch (2007). 
Assista ao trailer aqui
 
 
Site oficial da Orquestra Filarmônica de Berlim
 
CONCERTOS ONLINE - o Digital Concert Hall oferece concertos ao vivo, em live-streaming, além de um arquivo com apresentações mais antigas e documentários. Funciona na base de assinaturas, com taxa única.
 
TOUR VIRTUAL - conheça a atual sede da Orquestra por meio de imagens interativas em 360 graus. É grátis!
 
Leia também:
50 músicos na pista de patinação 
A Orquestra do Terceiro Reich 
 

Comentários

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  • 11.11.2021 00:15 Wanderlei Soares da silva júnior

    Essa situação só mostra o quanto a música erudita sempre foi elitizada e de nicho! Não sei nem o que mais comentar...

  • 05.11.2021 13:49 BOLIVAR

    Muito interessante como a orquestra sobreviveu em meio as dificuldades, em meio a tanta beleza musical fatores políticos inebriam e oscurecem os fatos, excelente artigo.

  • 18.10.2021 17:34 Camilla de Ávila Mariano

    Ótimo texto que traz o passado "sombrio" da Orquestra Filarmônica de Berlim. Algo que vale sempre a pena nos atentarmos é de como a arte é importante. Tanto o é que governos totalitários não pensam duas vezes antes de utilizá-la como instrumento de dominação.

  • 17.10.2021 14:40 RAFAEL MARQUES SANTOS

    É sempre bom ter essas coisas documentadas, pra gente sempre olhar pra trás e ver a merda que fizemos e tentar não voltar a repetir essa situação. A ascenção do nazismo e toda a sua aura coerciva trouxe cicatrizes em todos os âmbitos da arte e a música não escapa disso. Só fiquei impressionado como esses artistas não foram levados para campos de concentração ou executados, coisa do tipo. Me faz pensar também que músicas menores talvez não tenham tido o mesmo bem-feitio do "acolhimento" americano e afins para ajudar a refugiá-los. O que leva também a questionar, Status traz poder, e poder = sobrevivência.

  • 16.10.2021 17:19 Caio Newton dos Santos

    Música e história são complementares, e podemos compreender o que pode ter influenciado alguma forma de fazer a música com base no contexto histórico em que se passa a ocasião, bem como a Gabriela disse. É realmente lamentavel saber da situação em que a orquestra filarmônica de Berlim sofreu este descaso da parte do governo.

  • 14.10.2021 11:00 Gabriela Santos

    Conhecer a história de algo é sempre muito importante e igualmente interessante, pois nos leva a entender o processo de formação de tudo o que vemos hoje. Acredito que seja injusto julgar as atitudes que levaram o então maestro da OFB a unir-se ao nazismo pois estaremos retirando esse fato do contexto e assim sendo, estaríamos cometendo uma enorme falha.

  • 13.10.2021 23:50 Gabriel Figueiredo Nunes

    Interessante a abordagem sobre esse assunto, porque eu sabia apenas da propagação da cultura do regime nazista pelos veículos de comunicação e pela rádio. É triste ver que a orquestra filarmônica de Berlim foi tão desvalorizada pelo governo desde o começo, mesmo contando com excelentes músicos que revolucionaram sua geração. Estes textos me fizeram refletir sobre como o jogo de interesses pode ser cruel, levando em consideração que a orquestra só teve suporte governamental ao aderir ao partido nazista e estar submisso à propagação de sua cultura. Lamentável ver músicos excelentes serem menosprezados e perseguidos por sua origem e por sua então denominada "raça". A arte, em todos os âmbitos, é o que liga o sentimento e a expressão humana em comum para todos os outros seres humanos, unificando-os ao invés de segregá-los. Excelentes textos, professor!

  • 13.10.2021 22:26 gabriel guerra ferreira

    Ótimos textos. Interessante notar como o nazismo afetou diversas camadas da sociedade alemã, incluindo a arte. Também é importante perceber o quão importante é a parte financeira em questão a arte, já que a orquestra teve que se juntar ao partido nazista para conseguir se manter.

  • 13.10.2021 22:05 Eduardo Nogueira Silva

    Os artigos anteriores, assim como esse, são super legais e me entreti muito, principalmente por ser de uma área fora do meu comum. Infelizmente não consigo analisar fatores mais amplos e específicos da música por eu não entender, mas isso não foi um motivo para eu não me interessar pela história. Contudo, estou conseguindo ligar algumas informações dadas em aula com o que foi apresentado no decorrer da história. Agradeço pela indicação.

  • 13.10.2021 19:32 Leandro R. Duarte

    Este texto e os anteriores que falam do início da orquestra ora citada é de uma riqueza muito grande. E, dentro desse contexto, achei muito interessante como surgiu a orquestra de Berlim que, por ironia, fora germinada pelo descontentamento dos músicos (ganhos não condizentes, entre outros) com o antigo empregador Benjamin Bilse. E isso os motivou a criar uma cooperativa de músicos tem objetivos claros: autonomia musical e alta qualidade. Em outras palavras, eles se tornaram independentes e foram lutar para serem livres. Mas a realidade é que no mundo dos negócios nem tudo por ser resolvido com boa música, ou seja, eles tiveram severas dificuldades e se aliançaram com a iniciativa privada na pessoa do austro-húngaro Joseph Joachim e com o empresário judeu Hermann Wolff, conforme o artigo “Judeus na orquestra nazista”. Infelizmente, devido ao regime totalitário, a orquestra foi ligeiramente convertida de iniciativa privada para uma entidade estatal nazista. Entretanto, um alemão Wilhelm Furtwängler, bem nos tempos sóbrios, tentou apaziguar a tensão entre os nazistas e seus músicos judeus em prol do talento, mas ele “(...) não rejeitava a política antissemita, (...), mas a intromissão política em seu domínio”. Ou seja, embora o Furtwängler tivesse sérios interesses nos músicos judeus isso advinha do MÉRITO deles, pois o “(...) maestro Furtwängler, por princípios, não admitia em hipótese alguma intromissões políticas em assuntos artísticos”. Em resumo, os judeus se firmaram em meios ao caos pela sua meritocracia e não pela benevolência do tal maestro. Outro aspecto importante é saber que, pela ganância da hegemonia e poder, os nazistas discriminaram formadores da música erudita, tais como: “o checo-austríaco Gustav Mahler (1860-1911), o alemão Felix Mendelssohn (1809-1847) e o austríaco Arnold Schoenberg (1874-1951), tornaram-se alvos de discriminação racial pelos líderes do regime”. Em outras palavras, o regime se tornou sanguinário até com os seus concidadãos, por exemplo, compositor alemão Paul Hindemith (1895-1963), casado com uma judia, extremamente opositor de tal regime, teve suas “(...) obras (...) banidas do repertório alemão”.

  • 13.10.2021 00:47 Vinicius Andrade de Lima e Silva

    Nunca imaginei que a renomada orquestra filarmônica de Berlim tivesse passado por tantas dificuldades e problemas desde o seu inicio. Pelo que percebi, ela quase foi desfeita várias vezes ao longo de sua historia, o que acho um fato curioso já que raramente pensamos que uma orquestra tão renomada hoje poderia facilmente, devido a todos esse incidentes, não existir mais hoje. E quanto ao caso dos músicos judeus, o fato de que eles não foram todos expulsos ou fugiram por conta própria logo de imediato a ascenssão de Hitler ao poder me surpreende, mas pelo relatado isso não durou muito e logo eles tiveram que sair. Não tenho muito a comentar sobre isso a não ser que é triste pensar que músicos talentosos eram descriminados devido a políticas e ideologias estúpidas.

  • 08.10.2021 17:11 Milena Maria Fernandes

    Muito interessante os textos! A história da orquestra filarmônica de Berlim é realmente inusitada para mim, os textos trazem informações valiosas sobre sua criação, pessoas influentes e como ela sobreviveu ao longo dos anos. Interessante observar que em alguns períodos a OFB foi submissa a certas condições, como aliar-se ao governo nazista, para garantir sua sobrevivência. Realmente muito bem escritos e esclarecedores!

  • 05.03.2016 18:28 Henrique Moreira

    O texto propõe e responde uma pergunta interessante: e os músicos judeus dentro do nazismo? Mostrando o universo da música dentro de um contexto sócio-politico..Ótimo texto de referência.

  • 02.03.2016 18:09 Diogo Carvalho Gondim Teles

    Interessante conhecer este lado “obscuro” da Orquestra Filarmônica de Berlim! A ideologia nazista foi um câncer que se alastrou para vários setores da sociedade alemã, até mesmo para as instituições artísticas da Alemanha. Percebe-se que o antissemitismo intrínseco à ideologia nazista perseguiu os judeus por todos estes setores, e no caso, do meio artístico, tentava desqualificar o talento dos artistas descendentes de judeus de várias formas. Excelente matéria!

  • 02.03.2016 18:07 Thaisa Graciele Rodrigues

    Muito interessante ver essa ligação da OFB com o nazismo! Excelente texto!

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Othaniel Alcântara é professor de Música da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador integrado ao CESEM (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical), vinculado à Universidade Nova de Lisboa. othaniel.alcantara@gmail.com / othaniel.alcantara@gmail.com

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