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Rodrigo  Hirose
Rodrigo Hirose

Jornalista com especialização em Comunicação e Multimídia / rodrigohirose@gmail.com

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O rabecão e o navio negreiro

| 19.05.15 - 09:55
 
“Veio os homens
e nos pararam
documento por favor
então a gente apresentou
mas eles não paravam
qual é negão? Qual é negão?
o que que tá pegando?
qual é negão? Qual é negão?”
Marcelo Yuka
 
Goiânia - Cada edição do Mapa da Violência divulgada abre um pouco mais a ferida do “racismo à brasileira”. A última, publicada na semana passada, não foge à regra. Sabemos que pretos e pobres sempre foram os protagonistas do banho de sangue que tinge de vermelho as ruas do País, mas assusta constatar que esse abismo social e racial só se aprofunda.
 
O Mapa 2015 demonstra que o número de homicídios só faz aumentar a cada década no País. E que esse aumento se dá, principalmente, dentro da parcela negra e pobre. Enquanto a taxa de homicídios por arma de fogo no Brasil caiu 23% entre os brancos (o recorte vai de 2003 a 2012), entre os negros ela subiu 14,1%.
 
Quase 130 anos após a abolição da escravidão, o racismo à brasileira segue inabalável. Como nos ensina a antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz, que acaba de lançar “Brasil – Uma biografia”, o brasileiro se considera uma “ilha de democracia racial cercada de racistas por todos os lados”.
 
A afirmação vem reforçada por uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), cujo resultado foi o seguinte: 96% dos entrevistados não se consideram racistas, mas 99% dizem conhecer alguém racista. E esses conhecidos são gente muito próxima, como pais, irmãos, namorados, amigos... Ou seja, o inferno sempre são os outros.
 
Mais fácil que admitir que somos preconceituosos e que, portanto, precisamos lutar diariamente contra isso, preferimos sentar sobre o próprio rabo e apontar o dedo para os demais. Ainda afirmamos orgulhosos que “eu até tenho amigos negros (aqui você pode trocar por qualquer outra minoria)”, usamos o elevador social e elogiamos os negros de “alma branca”.
 
Ocorre que negar a existência de um problema não o fará desaparecer. Ao contrário, é a melhor forma de deixá-lo crescer até chegar o momento em que fica impossível escondê-lo debaixo do tapete.
 
Há quem ache que o racismo à brasileira seja pior do que o existente em países como os Estados Unidos, por exemplo, onde o conflito é absolutamente claro. Sob esse raciocínio, nosso racismo velado seria mais pernicioso (como o vírus invisível que contamina o organismo até matá-lo). Assim como Lilia Schwarcz, tendo a acreditar que não há um racismo melhor que o outro.
 
Não é por coincidência que o morticínio verde-amarelo atinja especialmente a população negra no Brasil. O mesmo ocorre nos presídios, onde 60% da população carcerária é negra, segundo alguns levantamentos (há, sempre, como questionar metodologias e ideologias por trás de estudos do tipo, mas é impossível enganar o que nossos olhos vêem quando entramos em um presídio).
 
Aluns contrapõem e afirmam que os negros também são maioria entre os autores de crimes -- portanto, seria "natural" serem maioria nos presídios. Pelo menos em relação aos delitos ordinários que preenchem os telejornais sensacionalistas, a afirmativa parecer ser verdadeira. Mas muitas vezes quem pensa dessa forma se esquece de se perguntar o motivo de ser assim.
 
Várias outras questões correlatas podem ser feitas. Por exemplo, “por que os negros são minorias nos bons cursos universitários?”, “por que a presença deles em altos cargos executivos ainda surpreende?”, “por que mesmo entre vendedores de shopping (olha só: não estamos falando em cargos diretivos, mas em uma função mediana!) há poucos vendedores negros (exceção para lojas de moda “moderninhas”)?
 
O Brasil passou pela desonra de ter uma abolição mais que tardia, mas vergonha maior é manter uma desigualdade tão gritante quase um século e meio depois. O resultado está aí: parafrasenado o Rappa, todo camburão tem muito de navio negreiro.

Comentários

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  • 19.05.2015 15:41 Leandro

    Não acredito que alguém ligado à segurança pública possa acatar essa teoria da esquerda de que negros e pobres morrem no Brasil. Será que os policiais saem matando as pessoas porque são negras ou porque são criminosas? Já não basta o absurdo das cotas neste país (como se os reis africanos, negros claro, não tivessem sido responsáveis pelo envio de milhares de negros da África para o Brasil, trocados por tabaco e comida. Onde está essa dívida histórica sendo que a escravidão foi fomentada pelos próprios reis africanos? Agora os brancos precisam pagar uma dívida histórica que foi iniciada pelos próprios negros? Morrem 60 mil pessoas por ano no Brasil vítimas de violência e os negros querem dizer que tudo não passa de racismo? Qualquer gay que morre neste país vira homofobia, sem qualquer checagem. Aquele aluno do ENEM que brincou com a prova de redação e tirou nota boa foi simplesmente porque mora no sertão da Paraíba? As mulheres falam em igualdade de direitos, mas querem leis mais severas quando a vítima é mulher, ou seja, igualdade uma ova. Ora, agora ser branco e hétero neste país é crime? Pelo enfoque de 90% dos jornalistas creio que sim. Então, vá e lute pelos direitos dos japoneses, sociedade destruída pela segunda guerra mundial. Migraram para o Brasil e trabalharam duro, sem vitimismo. Por que não existe cota para orientais, para judeus etc? Eles sofreram também. Milhões sofrem até hoje, inclusive em seu próprio país, Israel. Jornal uruguaio já trouxe a notícia de que judeus sofrem mais preconceito. E aí? Depois de assistir ao genocídio de cristãos em todo o mundo, simplesmente por serem cristãos, os jornalistas brasileiros falam que negro e pobre morre mais. Conversa mais fiada impossível! Acho que vocês querem defender essa tese a qualquer custo, a qualquer custo MESMO. A inclusão social a qualquer preço e de qualquer modo está trazendo só desastres na vida profissional dessas pessoas. O mercado não quer e a frustração é maior. E não é racismo, trata-se de mérito, algo que as políticas públicas não conseguem construir. E não estou falando somente de negros, estou falando de negros, pobres, brancos etc. Pessoas desqualificadas que por mil facilidades das leis entram na faculdade e depois acham que o mercado vai lhes dar a mesma facilidade e oportunidade. Só que não.

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