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Othaniel Alcântara
Othaniel Alcântara

Othaniel Alcântara é professor de Música da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador integrado ao CESEM (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical), vinculado à Universidade Nova de Lisboa. othaniel.alcantara@gmail.com / othaniel.alcantara@gmail.com

Música clássica

A Décima Sinfonia de Beethoven

| 19.01.15 - 17:45
Goiânia - Ludwig van Beethoven (1770-1827) deixou para a posteridade, grande quantidade de fragmentos de rascunhos de obras inéditas. Infelizmente, nunca saberemos exatamente a quantidade exata, pois muito se perdeu após sua morte. Desde então, vez por outra, manuscritos são encontrados. Foi o que aconteceu já no século XX, quando dois musicólogos, o alemão Sighard Bramdenburg e o inglês Barry Cooper, através de artigos publicados, respectivamente, em 1984 e 1985, comunicaram a descoberta de três grupos de esboços de uma sinfonia, datados de 1822 a 1825.


 
Ludwig van Beethoven (1770-1827) 
Fonte: dw.com
 

Esse material devidamente identificado e selecionado revelou cerca de 350 compassos escritos na tonalidade de Mib maior, quase todos pensados para o primeiro movimento. Até aí nenhuma novidade. Segundo alguns musicólogos, Beethoven deixou outras várias sinfonias iniciadas. Um exemplo é a Sinfonia em dó maior, datada de 1795/6, uma das obras mais completas esboçadas antes de 1800. Mas, a história começa a ficar interessante quando o material descoberto na década de 1980 é comparado com fontes biográficas.
 
Segundo Barry Cooper, um dos colaboradores do livro “Beethoven - Um compêndio”, o “Gênio de Bonn”, definitivamente, tinha a intenção de terminar essa última sinfonia. Duas cartas da época reforçam sua afirmação. Na primeira, o compositor comenta sobre o assunto, oito dias antes de sua morte. Na segunda, o violinista Karl Holz (1798-1858), copista e depois secretário de Beethoven, afirma ter ouvido próprio autor tocando a peça ao piano. Importante destacar que a descrição do primeiro movimento da sinfonia feita por Holz, condiz com os esboços pesquisados.
 
Mas, a história não para por aí. Barry Cooper, ainda na década de 1980, e à época, professor na Universidade de Manchester e, certamente bastante confiante nos seus conhecimentos sobre a linguagem composicional de Beethoven, realizou uma reconstrução hipotética do primeiro movimento da “Décima Sinfonia”, baseada nos esboços remanescentes.
 
Nada disso seria contado aqui se a partitura, resultado de sua pesquisa, não tivesse sido publicada (Universal Edition, Londres, 1988), apresentada ao vivo em muitos países e gravada por mais de uma orquestra.
 
Abaixo, o áudio da gravação do primeiro movimento da Décima Sinfonia de Beethoven “reconstruída” por Barry Cooper e realizada pela Orquestra Sinfônica de Londres, em 1993, sob a regência de Wyn Morris:


 




Não pretendo aqui comentar a qualidade do resultado do trabalho de Barry Cooper (apresentado no link acima) ou questionar a validade ou não de sua “contribuição” para a finalização de uma sinfonia, iniciada por um dos maiores compositores de todos os tempos. Na verdade, gostaria de saber a opinião do leitor.
 
Especulando um pouco sobre o assunto, apresento algumas interrogações: E se Beethoven deixou um manuscrito autógrafo completo da “Décima Sinfonia”, ainda não encontrado? Nesse caso, esta obra seria mais revolucionária do que a sua sinfonia anterior, uma de suas obras-primas? Uma coisa é certa, sua aparição seria uma das notícias mais importantes dos dois últimos séculos e, de quebra, entrando no terreno da superstição, decretaria o fim da “maldição da nona” (assunto do próximo texto).


Leia também:

A maldição da Nona Sinfonia (texto postado em 27/02/2015)

Beethoven era negro? Vidas negras importam!!! (texto postado em 29/07/2020)

 
 

Comentários

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  • 26.11.2018 21:23 Estêvão César de Melo Santos

    Isso é puro Beethoven! Nao gosto muito de trabalhos de reconstrução não autêntica, mas quando começei a ouvir isto, me surpreendi. Claramente, apesar de não perfeita, Cooper utilizou de um material fantástico para fazer algo muito próximo do que Beethoven, provavelmente faria. Enquanto ouvia, nem me passou pela cabeça algo que não fosse uma "glória", assim como a nona, no sentido da imaginação: E se Beethoven concluísse esse espetacular esboço, e consequentemente, os outros movimentos? E se nosso genio fosse mais do que achamos? E se um surdo terminasse a décima? Seria esta maior do que a nona?

  • 20.03.2015 20:27 Maria José Capuzzo

    Interessante! Nunca havia ouvido.

  • 01.02.2015 19:25 José

    Muito bom!

  • 01.02.2015 00:18 Elizabeth Ribeiro

    Parabéns pela contribuição excelente! Bom ver Otoniel depois de tantos anos!

  • 29.01.2015 08:11 juarez cunha portilho

    Quando escutei essa musica, senti o carinho e o respeito com que o compositor trata a melodia. Percebe-se a fluência comunicativa melódica, que o autor expressa ate o primeiros 5 minutos.

  • 28.01.2015 14:20 ANDERSON ROCHA

    Fabuloso saber que ainda há muito do gênio Beethoven a ser revelado. Parabéns pelo excelente artigo!

  • 23.01.2015 22:17 Carla Gullo

    Oi Othaniel! A nona sinfonia de Beethoven tem uma importância para a música erudita que talvez nenhuma outra tenha tido. Ela é utilizada desde comerciais e filmes de Hollywood até ser considerada símbolo da genialidade humana ou ser hino da paz entre os povos. E praticamente é conhecida pela sua melodia e não pelo seu autor, assim como é considerada como exemplo de "música clássica". Diante disso, é muito difícil aceitar uma décima sinfonia, não pela dúvida da finalização de Barry Cooper, mas porque a grandiosidade com a qual a nona sinofnia é tocada e sentida da época de Beethoven até os dias de hoje nos impede de ouvir com clareza uma outra sinfonia proveniente de um trabalho que traz uma significativa contribuição para a história da música. Talvez a música de Beethoven tenha tido tanta importância e força devido mais pelo compositor e não pela obra em si, mesmo que ela seja genial. Uma novidade sem a finalização dele parece vazia.

  • 23.01.2015 21:22 Sanoeth Schulze

    Puxa, que resgate!

  • 22.01.2015 19:05 Odilon chaves da Silveira

    Belíssimo! quisera eu, Bacharel em Canto pela Universidade Federal de Goiás, estar cantando acompanhado por uma Orquestra Sin fônica ou Filarmônica. Gosto muito de cantar, pois canto desde os dez anos de idade. Basta entrosamento, convivência e ensaiossss... entre cantor e instrumentistas.Sou um ser humano!Um filho de Deus.

  • 22.01.2015 17:25 Cindy Folly

    Mais um ótimo texto, mestre Othaniel! Não é uma delícia poder descobrir e amar uma música que é nova para os ouvidos, independentemente do período ou estilo?!

  • 22.01.2015 15:08 Matheus Rassi

    É estimulante para um apreciador da Música Clássica/Romântica as evidências de que ainda existem tesouros escondidos a serem revelados pelo tempo. A genialidade de Beethoven transcende o tempo e osestilos musicais e ainda é muito atual.

  • 20.01.2015 23:33 Mônica Araújo

    Muito bom o texto. Vamos aguardar...quem sabe em breve teremos novas descobertas...

  • 20.01.2015 22:41 Matheus Gondim

    Fiquei lendo o texto e imaginando a grande estréia de uma sinfonia composta há dois séculos, seria realmente alucinante. Muito interessante as colocações, agora é esperar, vai que... hehe

  • 20.01.2015 21:36 Fabricio Oliveira

    Muito boa apresentação, professor! Agora, quanto a contribuição do trabalho realizado por Barry Cooper é muito relativa. Mas explorando alguns aspectos já conhecidos das Sinfonias de Beethoven, esta Décima Sinfonia, me parece um tanto inglesa! rsrs Mas como um requinte de curiosidade, eu também fiquei muito curioso para ouvir alguma coisa do que Beethoven teria escrito sobra a sua Décima Sinfonia. Acho muito válido este sentido! Sobre a "maldição da nona", deixo o meu comentário para a próxima coluna. Aguarde...

  • 20.01.2015 21:32 Fabricio Oliveira

    Muito boa apresentação, professor! Agora, quanto ao contribuição do trabalho realizado por Barry Cooper é muito relativo. Mas explorando alguns aspectos já conhecidos das Sinfonias de Beethoven, esta décima sinfonia me parece um tanto inglesa! rsrs Mas como requinte de curiosidade, eu também fiquei curioso para ouvir alguma coisa do que Beethoven teria escrito sobra a sua Décima Sinfonia. Acho muito válido este sentido! Sobre a "maldição da nona" deixo os meus comentários para a próxima coluna. Aguarde...

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Othaniel Alcântara é professor de Música da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador integrado ao CESEM (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical), vinculado à Universidade Nova de Lisboa. othaniel.alcantara@gmail.com / othaniel.alcantara@gmail.com

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