Os bons tempos do Joãozinho Mercês

Bar marcou época no Centro de Goiânia | 17.12.14 - 08:40

Goiânia - Toda cidade que se preze tem seus bares marcantes. Em Goiânia, o Joãozinho Mercês está nessa seleta categoria. As memórias do local me vieram à mente no último sábado. Eu era o apresentador do show da Tiê no projeto CCBEU Tunes. Antes de começar o som, encontrei meu amigo Bruno Cabral que estava trabalhando no estande da excelente Cerveja Colombina. Para quem não sabe, a cerveja artesanal que está conquistando cada vez mais paladares é produção da família Mercês, a mesma que tocava o já icônico bar.

Quem é roqueiro goianiense com mais de 30 anos tem o lendário Joãozinho Mercês guardado no coração, na mais alta estima. Ele funcionava em frente ao Old Studio, que na época era chamado de Estúdio do Marcelo, e até hoje é casa de parcela significativa da cena local. Não é exagero dizer que o rock goiano não seria o mesmo sem o Old. Várias bandas tiveram ensaios e mais ensaios naquela sala da Rua 24 no Setor Central. Enquanto esperávamos nosso horário, sentávamos no bar para tomar o chope mais barato da cidade – sabe como é, dinheiro no bolso de roqueiro é mais escasso que água na Cantareira.

Naquelas mesas surgiram bandas, terminaram bandas, começaram namoros, músicas incríveis foram compostas, debates ferrenhos travados e litros e litros e litros de chope foram sorvidos para porres homéricos de ressacas espinhentas no dia seguinte.

O público era o mais heterogêneo possível, típico de boteco do Centro de qualquer metrópole. Uma fauna riquíssima, digna de documentários do Discovery Channel. De bancários engravatados a travestis que trabalhavam na Paranaíba, de estudantes de cursinho a traficantes de qualquer droga desejada, de maridos infiéis com a amante nas mesas de canto a gente disposta a uma relação sexual com qualquer um que topasse. E um monte de roqueiro cabeludo pegando fila para comprar mais fichas de chope.

No fundo do bar, ao lado do banheiro, tinha um palquinho onde rolava som ao vivo. Forró e sertanejo dominavam geral. Os casais dançavam, se encoxavam e suavam naquela sala quente com poucos ventiladores de parede que faziam circular o ar quente e a fumaça dos cigarros consumidos compulsivamente por grande parte dos frequentadores. Lembre-se que eram outros tempos e era normal fumar em ambientes fechados.

A porção de torresmo era um clássico. Depois de tocar fechado na salinha por duas horas, era a hora de fazer a resenha e matar a fome gigantesca que bate após todo ensaio de banda de rock – pelo menos nos ensaios mais inspirados. Discutir se o riff de guitarra deveria ser mudado ou não, se aquela passagem da música estava caindo bem ou não, qual seria o set list para o próximo show enquanto beliscávamos um torresmo com fartos goles de chope.

Os tempos passaram e o roqueiro que ensaia hoje no bravo Old, ainda administrado pelo gente boníssima Marcelo Kozlowski, não tem mais o Joãozinho Mercês como referência etílica de baixo custo. Uma pena. Pois a geração que ali foi talhada nunca mais se esqueceu do prazer de um chope a preço popular antes e depois de um ensaio barulhento e com suor escorrendo corpo abaixo no Centro da cidade. Enquanto nossa geração se importava se o estúdio tinha cerveja barata ao redor, a geração atual quer saber se o local de ensaio tem Wi-Fi liberada. São os novos tempos, meu caro, os novos tempos.

Comentários

02.08.2020 14:58 Wellington Rodrigues Almeida

Saudades do DJ saci e DJ Marquinho
02.08.2020 14:53 Wellington Rodrigues Almeida

Muito bom essa época aqui e o DJ canarinho só saudades
02.03.2016 11:56 rodrigo motta

muito bom esse tempo todo o fim de semana estava ai,na epoca do dj saci e outros mais frequentei ate fechar mas depois continuei frequentando os locais do joaozinho quer abriu uma discoteca na BR sentido neropolis acho que se chamava ''talisma''era muito bom,parabens pela materia me trouxe muita lembranças
24.06.2015 17:16 Roberval J. Silva

Parabens Pablo, grande recordação... só para vc ter noção sou do estado do Pr e viajava sempre para Goiania a tabralho e sempre tomava uma no Joazinho Mercês isso a 20 poucos anos atras quando ele estava começando a fabricar sua propria cerveja. Chegava mais cedo para aproveitar o preço pq das 18:00 as 20 20:00 hrs a cerva era mais barata, muita cerveja churrasquinho e caldos, bons momentos passei nesse bar, saudades...
07.05.2015 11:35 João Merces ( Joãozinho mercês )

Oi.. Pablo.Obrigado pelo carinho pelas boas lembraças Saudades.. muitas saudades.
09.04.2015 13:42 Adriano Mercez

Parabéns Pablo belo texto.
23.12.2014 08:30 LEONARDO FARIA

Ótimo artigo Pablo. Me lembro muito desta época. O OLd Stúdio do Marcelo... que coisa boa relembrar estes tempos... aonde não tinha smartphone, e sim um bom chopp, um som legal e um papo de rock. Parabéns pelo comentário. Abraço
18.12.2014 21:33 Michel Santos de Mendonça

Nossa...que lembrança boa. Assim que cheguei em Goiânia meados de 97 para fazer cursinho ali no Anglo (pertinho do Bar) primeiro bar que frequentei foi esse. Logo depois comecei a ensaiar no Marcelo.Tocamos la de 98 até o começo dos anos 2000. Belo Texto !!
17.12.2014 21:59 Isabel Pimenta

Parabéns Pablo...como srmpre textos bons....limpos e bem bacabas de se ler. Relembrei tempos bons...obrigada!! Bjuu
17.12.2014 15:32 Israel Evangelista de Alencar

Todo ensaio da minha banda rola um carote, e é o que faz o pós ensaio ser uma das partes mais legais de se ter uma banda. Seria legal se ainda houvesse uma referencia dessas, a interação poderia se estender não só entre a banda, mas também entre as bandas. Tem muita gente com espirito legal de rock puro e etílico, falta mesmo é um buraco legal e barato para a galera se reunir. A moda da ostentação expulsa os sensatos para as periferias, afinal eu não pago 10 pau numa cerva comum só para pagar de otário!!!
17.12.2014 14:15 Ademar Lourenço

Saudade desse tempo. Tinha até uma música dos reaças homenageando o bar.
17.12.2014 14:14 Ademar Lourenço

Saudade desse tempo. Tinha uma música dos reaças que homenageava o bar, lembra?
17.12.2014 10:50 João Paulo

Boa Pablão.

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