Ontem foi um domingo diferente. Com o Goiás (meu time do coração) na Série B, não rolam partidas no dia tradicional do futebol. O Flamengo (meu time de simpatia), havia jogado no sábado. E como não dei a mínima para a final da Copa América, um buraco apareceu no meu domingo. Sem Serra Dourada e sem jogo na TV, bateu aquele desespero: cadê o futebol na minha agenda do dia? Eu precisava de algum jeito ocupar esse espaço destinado todos os domingos ao pior dos meus vícios.
Costumo dizer que não gosto de futebol, gosto é do Goiás. E tenho simpatia pelo Flamengo. Ponto final. Se o Goiás estiver em campo na Serrinha contra o Goianésia, debaixo de chuva e num jogo que não decide nada, essa peleja terá minha preferência do que um grande clássico mundial, tipo Barcelona e Real Madri, decidindo uma final qualquer. Não tenho interesse algum por outra partida que não tenha meu time em campo. Acho frio, acho chato, acho perda de tempo. Imagino que seja isso que minha mulher pensa de mim quando saio na noite de terça (como farei amanhã), com o foninho do radinho nas orelhas e camisa verde para acompanhar o Goiás no Serra Dourada. Eu a entendo, sei que provavelmente ela está certa, mas existe algo dentro de mim que me impele e é mais forte que a razão. O tal do vício.
Ontem acordei cedo para os padrões de um domingo. Lá pelas oito já estava de pé. Após ir na banca e comprar os jornais, já cuidava das coisas da casa - zelando das plantas, do cachorro, colocando a leitura em dia, saboreando uma cerveja austríaca... Mas a cabeça não conseguia desligar de uma angústia que aumentava cada vez que o relógio dava uma volta e se aproximava mais das 16 horas.
Tive uma ideia brilhante: vou comer um monte que de tarde bate aquele sono e pronto, a cama vai ocupar o lugar do futebol. Peguei minha mulher, a mãe dela que está passando uns dias conosco e a filha mais nova. Tocamos para a churrascaria mais famosa da cidade. "Hoje como um boi para tirar minha cabeça do futebol", pensei. Chegando lá, já mandei descer um vinho Malbec argentino para acompanhar a carne vermelha. Dizem que o vinho é um bom sonífero, né? E desce churrasco na mesa. De todas as peças, de todos os animais. Sempre naquele timbre, hiper mal passado, como o bom churrasco deve ser.
Saí de lá pesando uma tonelada. Cheguei em casa e faltavam 10 minutos para as 16 horas. Fui direto para minha cama, arrumei o travesseiro e me deitei. Mas foi só minha esposa ligar a TV na sala para que meu corpo readquirisse vida. Tal qual um zumbi, saí de minha cama e deitei no sofá da sala. Tomei o controle dela e, sem falar nada, coloquei na Sportv. Mesmo para dormir, eu precisava de uma narração, um comentário e o barulho do futebol. Dormi no sofá até o final da partida entre Uruguai e Paraguai. Não vi nada do jogo, mas seu som embalou me sono. Acordei na comemoração da Celeste, quando os uruguaios faziam a festa dentro de campo.
E vi que minha dependência por futebol aos domingos é algo mais sério do que eu imaginava: conseguir dormir só com barulho da narração provou isso. Mas se tentarem me mandar para a reabilitação, eu vou dizer não, não e não.