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Declieux Crispim
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Declieux Crispim é jornalista, cinéfilo inveterado, apreciador de música de qualidade e tudo o que se relaciona à arte. / declieuxcrispim@hotmail.com

Cine Qua Non

Brown Bunny

| 26.03.18 - 09:40 Brown Bunny (Foto: Divulgação)
Goiânia - Um tratado sobre a perda é o mote que rege a película Brown Bunny (2003), um ótimo exemplar da breve carreira de Vincent Gallo como diretor, um cinema da mise-en-scène de uma linhagem que remete a John Cassavetes ou Maurice Pialat, ou ainda a Elaine May, cujo foco se entrelaça ao cinema corporal, em que a linguagem gestual, os closes na face dos atores estão presentes para acentuar a tristeza infindável pelo qual Bud Clay (Vincent Gallo), um motociclista profissional introspectivo, está vivenciando. 
 
A narrativa perpassa por uma série de lembranças que envolvem um passado nebuloso com a sua ex-namorada Daisy (Chlöe Sevigny). Clay vive atormentado e parte de New Hampshire em direção à Califórnia. Sua expressão facial representa um universo particular em que emana tristeza através de seus olhares exasperantes, repletos de uma desilusão interminável. Os diálogos por vezes são escassos, mas a representatividade dos gestos é contundente e a sua dor é evidente. Imerso em seus pensamentos, Bud Clay vaga numa clara tentativa de se desvencilhar de um passado que insiste em se perpetuar e em entristecê-lo, ao passo que suas tentativas de se relacionar com outras mulheres são sempre falhas, uma vez que sua memória o impede de seguir em frente.
 
À época do lançamento, a obra de Vincent Gallo foi incompreendida e acusada de ser meramente um exercício para atender a vaidade de seu diretor, principalmente pela cena de sexo oral entre ele e Chlöe Sevigny. Todavia a cena não é gratuita e se integra como uma luva à história em uma passagem tocante e de uma pungente tristeza em que os pontos são conectados para se entender o motivo pelo qual a dor de Bud Clay é deflagrada.
 
A película é burilada de modo assombroso e corrobora o talento de Gallo na direção, além de um grande ator, apresentando um cinema que pode afastar os mais incautos, aqueles que são doutrinados por um cinema que estreita e limita a visão. O seu diretor traça uma obra em um tom claramente confessional que captura o desolamento vivido pelo personagem principal e que espelha uma solidão pela qual os seres humanos parecem condenados a viver, afinal a perda é inerente à vida e se isolar deste fato é algo inexorável. Quando, finalmente, a verdade vem à tona, torna-se impossível não cair em prantos. 
 

Comentários

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  • 28.03.2018 03:08 Flávia Carelli

    Não assisti Brown Bunny (2003), quero ver!!!

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