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Maite Vence

Galiza e Brasil: horizonte comum

Língua galega integra lusófonos e hispânicos | 24.02.14 - 14:17
A relação da Galiza – região situada no noroeste de Espanha e ao norte de Portugal – com a lusofonia, e especialmente com o Brasil foi, desde sempre e para nós, uma questão histórica e de fortes reivindicações empreendidas em diferentes momentos do tempo por destacadas figuras galeguistas da cultura ou da política.

Algumas das mais notáveis foram frei Martín Sarmiento, Manuel Murguía, Valentim Paz-Andrade e tantos outros, principais construtores históricos sobre os que hoje se assenta o atual discurso ideológico ao redor da nossa língua – o galego – e das possibilidades da Galiza como região com uma cultura diferenciada dentro da própria Espanha. E com uma língua, o galego, irmã do português.
      
Esta constatação da utilidade da língua da Galiza como potencial econômico, social ou cultural no que diz respeito aos países lusófonos, supôs uma visão adiantada na forma de perceber a cultura e a língua. Isto entronca diretamente com uma ideia e uma visão de desenvolvimento que não sempre, por causa de questões ideológicas, obteve compreensão dentro do nosso país, deixando passar assim inumeráveis oportunidades de relacionamento com toda a comunidade lusófona mundial.
           
Obviou-se, em definitiva, a capacidade catalisadora que supunha a língua galega no mundo e as vantagens que representava como peça fundamental para o nosso desenvolvimento interno a partir da conexão que as afinidades culturais e lingüísticas nos outorgavam com os países de fala portuguesa.
 
Contudo, e apesar da falta de um apoio institucional incapaz de reconhecer a proximidade lingüística entre ambas línguas para estabelecer, em conseqüência, caminhos de relacionamento que impulsionassem novos intercâmbios culturais, o certo é que o interesse natural dos galegos por achegar-se a sua língua-irmã não decaiu.

Este fato demonstra-se com a aprovação pelo Parlamento da Galiza, no próximo dia 11 de março de 2014, e com previsão de unanimidade, de um novo marco legislativo que permitirá o "aproveitamento da língua portuguesa e dos vínculos com a lusofonia". A Iniciativa Legislativa Popular leva o nome de Valentim Paz-Andrade, ilustrado galego da cultura, da política, e da empresa do séc. XX, e fortemente vinculado ao mundo lusófono tanto no plano cultural coma no empresarial. 

Paz- Andrade foi também o arquiteto ideológico de um modelo de desenvolvimento econômico para a Galiza daquele então que passava necessariamente por projetar-se para o exterior, particularmente para a lusofonia. Um modelo visionário, no que a Cultura funcionava como elemento nuclear capaz de provocar impactos multidimensionais em toda a estrutura econômica de um país, e no que a língua jogava um papel chave.

Esta maneira de perceber a Cultura, a Economia, e as Relações Internacionais, de ter-se tido em conta no passado, situar-nos-ia hoje noutra esfera de conhecimento e de expansão.
 
Também nos últimos anos, vozes sensíveis, começam a abrir o debate para analisar uma possível pertença da Galiza como membro observador ou convidado da CPLP; esta eventual incorporação traria enormes possibilidades de expansão multilateral para o desenvolvimento de diferentes setores industriais e culturais, onde a língua comum facilitaria os intercâmbios e alargaria todos os campos de atuação, e particularmente no referente às produções culturais, ao constituir o mercado luso-galego uma saída quasi-natural e de maior dimensão, veiculada através da língua.
 
Dados os novos reptos aos que devem enfrentar outros setores do sistema produtivo em profunda crise na atualidade, as indústrias culturais emergem, para nós, como oportunidade para converter-se em motores de crescimento com a força suficiente para mudar velhos e ineficientes paradigmas.

Hoje a comunidade lusófona está composta por perto de 200 milhões de pessoas no mundo, a hispanófona supera os 500 milhões, e a Galiza, pela sua posição geoestratégica, erige-se como um ponto de encontro privilegiado capaz de conectar a lusofonia com a hispanofonia e com a Europa. Neste tempos, de novos desenvolvimentos, de construções e reconstruções, o efeito multiplicador da Cultura é inegável, e já quase ninguém concebe nenhum sucesso no plano econômico sem conectar com a cultura.

Aproveitemos, pois, Brasil e Galiza, os espaços comuns. Temos esta obrigação!

*Maite Vence é economista e diretora de FAZ Cultura e Desenvolvimento (www.fazconsultora.com), empresa da Galiza (Espanha) especializada em Cultura, Turismo e P&D em sectores econômicos ligados à inovação.

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